Claude Théberge
Uma das pérolas nas cidades beirãs. Arquitetura digna, nos detalhes, granito como cumpre, museus e igrejas de espanto, comércio vivo, zonas pedonais a servirem-no, gastronomia de excelência – não referir a catedral de seu nome “Cortiço” seria pecado sem remissão. Nas ruas estreitas, afadigam-se gentes laboriosas – injustiça é seguir o preconceito de apenas na região que cerca o Porto, nele também, existe empenho no trabalho a envergonhar o resto de Portugal. Viseu desmente com pundonor.
Da «mouraria» para cima onde o Tejo, já em correria para o mar, é fronteira, excetuando algumas urbes industriais cujo trabalho escravo fez história de revolta, predominam almas conservadoras até ao tutano. Apegadas à fé. Às tradições. Ao bem ser e melhor parecer. À vigilância social.
Dados os pressupostos, configurar franchising do “Bairro Vermelho” de Amsterdão localizado em ruela de Viseu é anacronismo que jamais os habitantes configurariam em pesadelos do piorio. Mas a necessidade é muita, o negócio do sexo deve estar em baixa como todos devido à penúria que por aqui vai e surge espécie menor de Red Light District. Diferenças substantivas neste comércio viseense se comparado com o original: janelas em vez de montras bordejando a rua, vendedoras limitadas, por isto, a exibir seios desnudos ou emoldurados em lingerie chamativa. Salvo arriscarem escadote, da cintura para baixo, nada é vislumbrado pelos passantes e pelos candidatos à subida das escadas. Adivinhação pura do encoberto, o que tanto faz aos precisados ou viciados ou curiosos. Para todos estes é bênção substituir revistas e canais óticos atrevidos por espetáculo privado com cheiro, cores e palpações e o mais que aqui não cabe mencionar.
Indignam-se mulheres - «esposas» ou não – pela concorrência desleal e pela insegurança de circular na rua dos mil olhos e ilusões. Com os maridos, igual, porque atentados ao pudor na forma de convites a esmo às respetivas é ofensa e perigo. Será que a edilidade avança com proibição ou ativa o fisco para do pseudo franchising retirar valias?
É sensato aceitar não ser Portugal um país, mas, pelos poderes instituídos, sítio mal frequentado.
CAFÉ DA MANHÃ
Shirley Bassey e David Bowie comemoram hoje aniversários.
Al Moore
Não aqui nesta Lisboa cinzenta e fria para peles que geadas não enrijaram. Mas caem nas regiões altaneiras do meio para cima de Portugal. Cristais brancos de água, sólidos porque as moléculas estruturam regularmente nós de redes em anéis, são os farrapos brancos que fogem dos céus plúmbeos, depois branco cerrado e luminoso enquanto a neve cai. No ‘ai que isto vai a pior’, escolas anteciparam o fecho e enviaram, em segurança, a criançada para casa. Seja o borralho de brasas ou sob a forma geométrica de termoventiladores e condicionados, acolhe e sabe bem a cada um da família que, aos poucos, reuniu.
Talvez amanhã, o hoje de quem lê, estradas interrompidas por gelos dificultem rituais. Faltam limpa-neves que conservem estradas desimpedidas num país brando em frialdagens, em lareiras onde mal fervem nas panelas de ferro contestações sem extravasarem as bordas. Evaporado o solvente de sobra, geram caldo morno, excepto para quem o consome devido à precisão; mais parece água chilra com couves sobrenadantes do que sopa de substância. Falta o naco de carne ou de chouriço de vinho, o feijão encarnado, abóbora em pedaços que lastram o estômago e não envergonham quem, hospitaleiro, convida: _ Venha p'ra tigela de sopa connosco!
Indiferentes, os flocos caem, as indignações sobem não passando do limite feito de telhas encarreiradas. Engolidas com o caldo de nada e o cozido de coisa nenhuma. As indignações, porque o telhado resiste. Até um dia. Até ver.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros