Paul Wolber
Bandos de crianças. Nas mãos, abóbora escavada como se caveira fosse iluminada por vela interior. Em alternativa, caixa de sapatos com enfeites semelhantes. Na noite de 31 de Outubro, nos pequenos meios urbanos ou rurais, a pequenada, míngua em número, sai à rua. Desperta o sentimento de no amanhã os adultos honrarem santos e os seus mortos que nas campas são restos.
No dia de Todos-os-Santos, está arredada a noção de santidade. Nem remeto para o conceito e para os rituais católicos que nas igrejas são celebrados. Santos há mortos e vivos pela dádiva da vida ao serviço dos outros. Muito se devem amar a si primeiro para desse amor sobrarem gestos servidos em bandeja aos precisados de um afeto, de uma palavra, de uma presença. Porque a santidade não se confina aos altares nem a aros de ouro enfeitando cabeças escultóricas nem a ramalhetes de flores aos pés de imagens postadas em toalhas de renda. A santidade é outra coisa. Não carece de certificados de garantia concedidos pelo Vaticano. Não obriga à condição de mártir. De frade ou freira. Ou padre. Ou qualquer outro degrau na hierarquia católica dos profissionais da causa divina. Ainda menos de eremita. O caminho da santidade é o caminho da paz interior, do bem estar com o próprio e com os outros. E santo pode ser qualquer um que de melhorar quem é não desista. Milagreiro, sim, ao transbordar amor para uma, várias, muitas vidas que rente à pele e ao espírito o sentiram. Nunca mais um, mas alguém especial que mereceu inesperada oferenda.
Hoje, os cemitérios são floridos lugares de saudade e servem romaria de afectos vivos. De porta em porta, cantarolam as crianças:
_ Bolinhos e bolinhós, para mim e para vós, para dar aos finados, que estão mortos e enterrados.
No interior da casa, luzes acesas. Esperam a criançada afabilidade, ternura, momento de companhia para os idosos que nos pequenos visitantes (re)vêem (bis)netos ausentes. A acompanhar, guloseimas, romãs e nozes frutos do Verão finado e do Outono meado. Amealhada a oferta última, segue cantoria/agradecimento:
_ Esta casa cheira a broa, aqui mora gente boa.
Mantendo-se a porta cerrada, a miudagem não se fica:
_ Esta casa cheira a alho, aqui mora algum espantalho!
Tradição antiga recuperada pelas autarquias como meio de aproximar habitantes, estimular a confraternização e constituir forma outra de pedagogia para crescidos e pequenos.
CAFÉ DA MANHÃ
Â
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros