Anna Halldin-Maule
Começa hoje o verão às 18 horas e 16 minutos com muito calor. Solstício de verão é um fenómeno astronómico que marca o iníco desta nova estação. Corresponde ao instante em que o Polo Norte apresenta uma inclinação de 23,5º em direção ao Sol, enquanto no solstício de inverno o Polo Norte fica afastado do Sol com uma inclinação de 23,5º. O termo solstício tem a sua origem no latim solstitius que significa "ponto onde a trajetória do sol aparenta não se deslocar". Consiste em sol + sistere que significa "parado".
No solstício de verão ocorre o dia mais longo do ano e consequentemente a noite mais curta, em termos de iluminação por parte do Sol. No hemisfério norte e este ano, acontece a 21 de junho e o solstício de inverno nos dias 21 ou 23 de dezembro. Os dias e horas em que ocorrem os solstícios não são iguais devido à velocidade atingida pela Terra na órbita elíptica. A viagem é mais rápida quando a Terra está mais próxima do Sol (periélio) do que quando está mais distante (afélio).
O solstício acontece graças aos fenómenos de rotação e translação do planeta Terra que distribui a luz solar de forma desigual entre os dois hemisférios. O solstício de inverno significa que a luz do sol não incide com tanto fulgor no hemisfério em questão. São fenómenos opostos dependendo do hemisfério em que um determinado país se encontra. Por isto, quando é inverno no hemisfério sul, é verão em Portugal.
Os solstícios estão relacionados com esoterismo e para muitas culturas têm simbolismo relevante. Nelas, o solstício de verão é motivo de grande alegria, porque representa a vitória da Luz sobre a Escuridão.
CAFÉ DA MANHÃ
Carl Rakeman Autor que não foi possível identificar
O domingo dealbara com sol. A tepidez que desde a manhã sentira nos pés nus no passarinhar pela casa anunciara-lhe dia feliz. Sentiu-o primeiro na pele, depois na alma ainda quente pela véspera prenha de afectos. Como sempre fazia, ligou a máquina de café, premiu a tecla do comando que pela voz a ligava ao mundo. Na cadeira verde-lima, tomou assento. O leite, temperado com cafeína, escaldava na chávena que segurava nas mãos. A casa ainda dormia – cuidadosamente, fechara a porta que a separava do resto do seu mundo. Entretanto, bebericava o café, agora puro e sem açúcar. A chávena verde-lima como a cadeira, como o pano de cozinha ao lado do lava-louça, como a chaleira-termo que durante o dia lhe confortaria a sede. Uma de muitas. Algumas entesouradas e de que não abria o cofre de ouro para onde as remetia.
Maquinalmente, ligou o computador que, indiferente ao sentir e à data, lhe depositava o correio sob a consciência. Leu novas, apagou velhas que para outrem constituíam estreia. Em dois gestos desligou a luz do monitor e cerrou o portátil maneirinho que, ao contrário da máquina fixa, lhe transmitia a ilusão de caixa oculta após o ato de a fechar. Odiava presenças impositivas. Por isso, pouco uso fazia do escritório onde os papéis, jamais os livros e as telas, lembravam obrigações. Que somente cumpria chegado o momento de transformar em gozo o tédio sugerido.
Pouco antes do domingo meado, saiu da bocarra funda e larga onde o automóvel dormira. Queria receber em cheio no rosto o sol do Solstício de Inverno quando fossem passados quatro minutos do meio do dia. Queria celebrar, na rua, o início da crescença da luz diária. Queria sentir o começo dos quase noventa dias da estação fria que, a 20 de Março, o Equinócio da Primavera termina. Conduzia encadeada pela beleza da cidade soalheira, pelos tons secos ou afogueados da Terra nas árvores semidespidas e nos relvados adormecidos. A cidade com eles.
Na descida para a Praça de Espanha, tão absorta deslizava, que na mudança de faixa fez sinal tardio. Travou sem impedir o encosto suave ao veículo que na outra seguia. Saiu ela e o condutor surpreso. No olhar cruzado, houve compreensão na vez de escândalo. Miradas as latas intactas, persistiu a vertigem do instante que marcava o nascimento do sol de acordo com as crenças antigas. A ambos tomou de assalto o início do novo ciclo que eles e a natureza empreenderiam. E a cidade vazia. E eles sorrindo nas palavras trocadas. Sentindo no sangue o privilégio da partilha.
Ao contrário da azáfama em busca de prendas talvez memórias, optaram, desafio dele, pelo Tejo a Sul. Do dia mais pequeno do ano fizeram o maior. Talvez história breve, sem lastro, talvez marco de amanhãs e futuros Natais.
CAFÉ DA MANHÃ
David Ligare
Deve ser uma maçada viver sobre o Equador: 12h de dia, 12h de noite todo o bendito ano. Inexistente o frisson de sentir a luz crescer e atingir o máximo no dia do solstício de Verão - para hoje a noite mais curta dos 365 dias da rotação da Terra - e, a partir dele o inevitável diminuir até ao solstício de Inverno por volta de 21 de Dezembro que marca a noite mais longa do mesmo intervalo de tempo.
Mas é deste 21 de Junho o tratado. Com o Sol no ponto mais alto relativamente à Terra, as sombras são as menores do ano. Quem não resiste a olhar para a sua própria sombra tem desgosto. Os demais, a maioria, querem lá saber do pequeno ou extenso rasto sombrio delineado atrás no solo. Tomaram eles que legassem impressivas passadas na vida! Estas, sim, importam. De resto, este Verão começado mais promete véu de nuvens cinza tapando a luz do astro dito rei que marcas/fronteiras entre a luz mais a expetável canícula e o desenho perfeito das sombras.
CAFÉ DA MANHÃ
Para saber Para fruir
Rafal Olbinsk
Às 11.12h, nem minuto a mais nem a menos, chega ao hemisfério Norte o ciclo invernoso, o mesmo é dizer que ocorre o Solstício de Inverno. Por 88, 99 dias, reinará até ser destronado pelo Equinócio da Primavera. No hemisfério Sul, às avessas da metade redonda definida pelos pontos cardeais como a de cima da Terra, sucede oposto: iniciado à mesma hora, o Verão.
Quando o ‘círculo’ máximo da esfera celeste forma com o nosso equador ângulo de 23º e 8’, a declinação do sol extrema - atinge o mínimo para os do Norte, o máximo para os do Sul. A partir de hoje, a crescença dos dias é traduzida por adágio ouvido nas Beiras: “No dia de Natal, quem bem contar, bico de pardal irá achar”.
Povos antigos, incas, maias, egípcios, indianos e outros, sempre associaram ao acontecimento rituais marcantes. Os druidas, ao considerarem-no dia da fertilidade, proclamavam a necessidade das mulheres engravidarem naquela data; os asiáticos simbolizavam-na por um velho de alvas barbas e vestido de encarnado – primórdios do Pai Natal?
O Imperador Romano Constantino I mudou a significância do Solstício de Inverno: celebrado o nascer de Cristo e não o do sol. Seria o abraço ao Cristianismo do império nascido em Roma a condicionar toda a civilização dita ocidental em que vivemos. Mas isto já é lugar-comum a evitar, conquanto resuma verdade insofismável.
Setphen Lyman
Da literatura nossa, vem ao caso poema de Eugénio de Andrade.
O Inverno
Velho, velho, velho.
Chegou o Inverno.
Vem de sobretudo,
Vem de cachecol,
O chão onde passa
Parece um lençol.
Esqueceu as luvas
Perto do fogão:
Quando as procurou,
Roubara-as um cão.
Com medo do frio
Encosta-se a nós:
Dai-lhe café quente
Senão perde a voz.
Velho, velho, velho.
Chegou o Inverno.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros