Francis Bacon – “Three Studies for a Portrait of Lucian Freud”
Há quem da sordidez faça vida. Nela se instale. Habitue. Como quisto sebáceo no lugar do costume. Vidas gordurosas. Poros como crateras abertos à trafulhice. Vidas-contos-do-vigário. Pejadas de fungos e bolores. Propícias à rataria e bichos subterrâneos. Odeiam luz que as foque. Do sol admitem o calor e o brilho que aos outros exibem, nalguma coisa simulando serem iguais. Não o sendo, longe disso. São morcegos necrófagos - da noite fazem dia e sugam quem mais perto chegar.
Dizem ser a oitava arte a que vende a sétima. A sétima, coisas, pessoas, principalmente o próprio. Arte invisível, não fossem os olhos miúdos que pingam manha e nalgum instante desliza manchando o discurso untuoso do vendedor da alma. Esta ao serviço de quem mais der. Ou parece dar, por maiores serem a longo prazo os logros dos vendilhões do que, à primeira vista, julgam surripiar.
O mundo está cheio deles. Descoberta a rede que lhes abriga a falsidade e o suor e o sebo e a manha e o rosto e as dívidas e a marginalidade, dela fazem galinha-dos-ovos-douro. Estejam puídas as defesas que ao indivíduo amarram ao cais, por descuido, inocência ou credulidade, as vítimas caem num ai. Daí a confiar vai um passo. Uma vez estilhaçada, a piedade ou o espírito redentor, são o maior perigo - é tornada vítima o morcego. Necrófago por necessidade, julgam almas pueris. Esquecida a vocação. Somente quando a gordura escorre e se acumula até o cheiro nauseabundo impedir a respiração, a vítima esbraceja. Levanta a cabeça para sobreviver. Olha o lodaçal, o buraco escuso e o bolor e os fungos. Foge a sete-pés.
CAFÉ DA MANHÃ
Alberto Vargas
«Googlava», quando descobri lembrança. Como pude relatar baboseiras tamanhas? Arrenego-as. Que, republicadas, me sirvam de exemplo.
“(…) O que explica que tantas mulheres se queixem que não conseguem manter uma conversa com um homem? Ou melhor, que eles são incapazes de manter uma conversa com elas. Será que na geração dos telemóveis, dos SMS, da Internet e dos “chats” os homens se estão a tornar tão socialmente inaptos que matam a sua interlocutora de tédio em menos de cinco minutos? Sem eufemismos: será que se estão a tornar chatos, como admite a jornalista e escritora Sabine Durrant num ensaio publicado numa recente edição da revista Intelligent Life?
Estará de facto a espécie masculina a tornar-se mais enfadonha? A tentação de contestar pessoalmente a alegação é refreada por um sábio conselho que o presidente da Associação Comercial do Porto, Rui Moreira, me deu recentemente durante uma entrevista: “Se queres saber os teus defeitos, pergunta a uma mulher.” Afinal, já dizia o velho adágio, ninguém é bom juiz em causa própria. Palavra a elas, então.
Teresa Castro, autora do blogue “Sem Pénis, Nem Inveja”, não rejeita o confronto. “Um homem só entedia quando não adivinha uma mulher”, responde ao “Expresso”. “Falta ao masculino a dose de intuição equivalente àquela que faz parte do património genético das utentes de vulva e sentido extra acrescentado aos cinco tradicionais.” Dito de outra forma, falta-lhes serem mais parecidos com as mulheres.
A primeira estocada é forte, mas a segunda vai mais fundo na ferida aberta no ego masculino. “Os homens permanecem adoráveis crianças toda a vida. Para eles, salvo o dinheiro e a carreira, tudo é brinquedo: a líbido, as parceiras, o futebol mais as ‘bejecas’ e os petiscos, os catraios que engendraram e lhes servem de pretexto para voltar ao tempo dos comboios e do ‘pouca-terra, muita-gente.’(…)”*
M’envergonho! Disse.
*Artigo de Nelson Marques na ‘Única’
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros