Quinta-feira, 30 de Janeiro de 2014

A GERAÇÃO DO ECRÃ

 

 

   

Terry Rodgers – The Good Life                                                                                                  James Cochram

 

Hoje, os noticiários da rádio anunciam diminuição da violência nas escolas, ainda que por contabilizar os números de par de anos anteriores ao estudo. Outra notícia de abertura é a da reunião do Ministro da Educação com representantes das universidades e das Associações Académicas. Praxes em debate ao poderem conduzir a vis agressões, submissões indignas e outros crimes. Somente após a tragédia do Meco que rapinou à vida seis estudantes e como é costumado no nosso país, o caso merece seriedade nos debates sobre as praxes que já anteriormente haviam tido brados, entretanto, esquecidos. Curtas memórias desembocam, não raro, em gravidades exponenciais.

 

Vem a propósito relembrar texto recebido há anos sem que possa identificar o autor por fazer alguma luz sobre possíveis razões antecedentes do descalabro a que chegámos.

 

“Desculpem se trago hoje à baila a história da professora agredida pela aluna, numa escola do Porto, um caso de que já toda a gente falou, mas estive longe da civilização por uns dias e, diante de tudo o que agora vi e ouvi (sim, também vi o vídeo), palavra que a única coisa que acho verdadeiramente espantosa é o espanto das pessoas.

Só quem não tem entrado numa escola nestes últimos anos, só quem não contacta com gente desta idade, só quem não anda nas ruas nem nos transportes públicos, só quem nunca viu os 'Morangos com açúcar', só quem tem andado completamente cego (e surdo) de todo é que pode ter ficado surpreendido.

Se isto fosse o caso isolado de uma aluna que tivesse ultrapassado todos os limites e agredido uma professora pelo mais fútil dos motivos - bem estaríamos nós! Haveria um culpado, haveria um castigo, e o caso arrumava-se.

Mas casos destes existem pelas escolas do país inteiro. (Só mesmo o Ministro - que não entra numa escola sem avisar - é que tem coragem de afirmar que não existe violência nas escolas).

Este caso só é mais importante do que outros porque apareceu em vídeo, e foi levado à televisão, e agora sim, agora sabemos finalmente que a violência existe!

O pior é que isto não tem apenas a ver com uma aluna, ou com uma professora, ou com uma escola, ou com um estrato social.

Isto tem a ver com qualquer coisa de muito mais profundo e muito mais assustador.

Isto tem a ver com a espécie de geração que estamos a criar.

Há anos que as nossas crianças não são educadas por pessoas. Há anos que as nossas crianças são educadas por ecrãs.

E o vidro não cria empatia. A empatia só se cria se, diante dos nossos olhos, tivermos outros olhos, se tivermos um rosto humano.

E por isso as nossas crianças crescem sem emoções, crescem frias por dentro, sem um olhar para os outros que as rodeiam.

Durante anos, foram criadas na ilusão de que tudo lhes era permitido.

Durante anos, foram criadas na ilusão de que a vida era uma longa avenida de prazer, sem regras, sem leis, e que nada, absolutamente nada, dava trabalho.

E durante anos, os pais e os professores foram deixando que isto acontecesse.

A aluna que agrediu esta professora (e onde estavam as auxiliares-não-sei-de-quê, que dantes se chamavam contínuas, que não deram por aquela barulheira e nem sequer se lembraram de abrir a porta da sala para ver o que se passava?) é a mesma que empurra um velho no autocarro, ou o insulta com palavrões de carroceiro (que me perdoem os carroceiros), ou espeta um gelado na cara de uma (outra) professora, e muitas outras coisas igualmente verdadeiras que se passam todos os dias.

A escola, hoje, serve para tudo menos para estudar.

A casa, hoje, serve para tudo menos para dar (as mínimas) noções de comportamento.

E eles vão continuando a viver, desumanizados, diante de um ecrã.

E nós deixamos.”

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:40
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Quinta-feira, 11 de Novembro de 2010

TAMBÉM COR-DE-BURRO FEIRANTE

Otha Haiku, Joerg Warda

 

O plástico tem as duas faces comuns: bom e mau. É material indispensável para moldes e múltiplas indústrias; oferece leveza e robustez, sendo tais características necessárias. Teve, tem, lugar importante nos hábitos sociais em contraponto com os d’antanho. Já não é preciso carregar água do fontanário como era comum aos bisavós rurais, tão pouco comprá-la ao aguadeiro nas urbes cosmopolitas correndo mais da metade do XIX, passadas Invasões Francesas e Guerra Civil. Vinha aí a Revolução Industrial e Portugal modernizou-se – expressão que sob o foco de hoje só não faz rir por, à época, estar o país e o povo desalinhado com as «esquisitices» da Europa rica que o Eça tão bem descreve(u). Naquela de ir buscar água à fonte, o plástico do XX substituiu, com vantagem, o peso dos baldes e jarros zincados que as ‘costelas’ das mulheres muito curvavam.

 

Porque o consumo da modernidade usa e abusa dos derivados do petróleo, os sacos de plástico sofrem de pecha idêntica. Alguns deles, reciclados, aliviam consciências atentas. Sejam lugares de compra centros comerciais ou vendedores postados em feiras, ai que por cada adquirido lá vem mais um! (custo incluído na aquisição), diferenciados os sacos e os sítios pela griffe impressa ou pela singela cor-de-burro feirante. Para o efeito, tanto dá. É plástico e basta.

 

Voltando ao XIX e antes de meado o XX, eram usadas seiras de junco ou vime, caixas e embrulhos de papel para acondicionar novos bens. Uso sensato que o mundo devia adoptar com alterações devidas aos quotidianos do XXI. Além do mais, é triste visão sacos de plástico, disseminados ao acaso, rodopiando no ar se a ventania os levanta. Por tratar, os entupimentos que provocam nas bocas dos esgotos das ruas - cheias consequentes mal o céu debita água em catadupas -, nos aterros sanitários.

 

Levar sacola de casa, bem dobrada na mala ou em espera no porta-bagagens, não custa. Vontades multiplicadas, neste particular e com método legisladas, podem alterar presente e futuro do mundo.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Não tem nada a ver com o texto? _ Parece!

 

publicado por Maria Brojo às 07:38
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