Connie Schaertl, Nadi Spencer
É trivial o parecer que de mulher simples não sejam esperados voos geniais. Verdade para quem julga banalidade despicienda carregar no ventre vida nova, pari-la, dar-lhe os seios noite e dia, cuidá-la, educar, dar ombro, ternura e afecto à família, empenho no trabalho, regressar com carregos do «super» e filhos pela mão, providenciar janta, dar banho à pequenada e, após dormidos, coser a bainha esgaçada na camisa do seu homem, engomar até as costas vergarem. Dia comum repetido no seguinte.
Que à mãe trabalhadora portuguesa, paga minguada e menor que a masculina, não sobre tempo para muito mais é previsível. Ainda assim, inúmeras ocupam horas que deviam ao sono em actividades cívicas, ajudam a idosa vizinha, oferecem o mimo dum sorriso aos que precisam. Tudo somado não faz delas geniais? Somente as que escrevem no conforto do escritório, as que se destacam na política ou nas artes ou na gestão de empórios merecem aplausos e reverências públicas? Salvo para aproveitamento partidário, quem menciona esta força/alicerce que respeitada e protegida faria melhor o país? Esperam-nos gerações desesperadas pelo crescer penoso, revoltadas contra as injustiças que vitimaram os pais?
Mulher simples declaro-me. Ido o tempo dos afazeres multiplicados, conquanto substituídos por outros, tenho o privilégio de ocupar ócios com leitura, escrita e pintura. Pois a simples deu em iniciar manta de croché. Com prendas na área do tricô, do ‘ponto de cruz’ e da costura, já ‘bordado cheio’ e renda saídos dos meus dedos foram desastre. Aventuro-me agora a tomar o gosto de uma só agulha nas mãos misturando lãs multicolores. Construir, preciso. É desafio continuado dar labuta aos neurónios e através deles ao fazer. Em cada laçada, esperança, em cada quadrado, a certeza do “consegui!”. No mundo das pequenas coisas, as grandes podem segui-las.
CAFÉ DA MANHÃ
Sugestão de Veneno C.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros