Freiras passam por uma fogueira em Velankanni, no estado indiano de Tamil Nadu. Centenas de voluntários apressaram-se a prestar auxílio aos milhares de vítimas do tsunami (Reuters/Kamal Kishore)
“O tsunami de 2004 foi o maior desastre natural dos últimos cem anos, desde que há registos. Provocou pelo menos 230 mil mortos e 1,5 milhões de desalojados. A energia total libertada pelas ondas do tsunami foi equivalente a mais do dobro do total de explosivos usados na segunda guerra mundial, incluindo as duas bombas atómicas. A província indonésia de Aceh, na Indonésia, foi a mais afetada, mas a destruição atingiu também o Sri Lanka, a Índia e a Tailândia. Depois, o tsunami atravessou o Oceano Índico e chegou às zonas costeiras da África Oriental. O maremoto foi igualmente observado na África do Sul e produziu ainda pequenos tsunamis ao longo das costas ocidentais da América do Norte e do Sul.
O tsunami foi precedido de um terramoto com epicentro no mar, a 30 quilómetros de profundidade e a cerca de 160 quilómetros a oeste da ilha indonésia da Samatra. O sismo, com uma magnitude de 9.1 a 9.3 na escala Richter, foi o terceiro maior registado num sismógrafo e o mais longo - entre 8,3 a 10 minutos -, e deu origem a outros terramotos em locais tão distantes como o Alasca, nos Estados Unidos. A deslocação das placas tectónicas também alterou a rotação do planeta, tornando os dias mais pequenos em 6,8 microssegundos, modificou a posição do Polo Norte em 2,5 centímetros e tornou a Terra ligeiramente mais redonda.
Dez anos após o tsunami, o Sri Lanka é um país recuperado. A onda gigante que chegou no dia a seguir ao Natal matou perto de 40 mil pessoas. Dois dias depois de as águas terem tomado conta de tudo, chegava a Colombo a equipa da Assistência Médica Internacional liderada por Fernando Nobre. O médico sempre foi fascinado pelo país.
O primeiro encontro entre Fernando Nobre e o Sri Lanka aconteceu no pior dos cenários. Na ressaca do tsunami, mas como explica o médico da AMI «foi uma oportunidade de conhecer um país mítico para mim, por isso de imediato parti para lá». A fúria da natureza devastou a ilha no dia 26 de dezembro de 2004. Dois dias depois, Fernando Nobre já lá estava. Quando aterrou na capital, Colombo, não viu sinais de devastação, mas não precisou de andar muito para a realidade ser outra. «A 15 a 20 quilómetros a sul de Colombo fui de imediato confrontado com uma enorme devastação, porque havia muita construção precária ao longo da costa. Era um cenário de profunda devastação ainda com corpos visíveis, com estradas bloqueadas», recorda o responsável da AMI.
Na viagem até à localidade onde a equipa se instalou, no sul da ilha, Fernando Nobre viu uma paisagem e um povo sem chão e sem teto onde «as pessoas estavam completamente apáticas. Não olhavam. Estavam em choque profundo. Depois vi pessoas com olhares perdidos que ainda não tinham bem assimilado o que lhes tinha acontecido, porque muitos tinham perdido imensos familiares».
Fernando Nobre regressa ao país todos os anos. Uma década depois do tsunami, o que vê é um novo Sri Lanka porque o país «está completamente transformado. Em termos de hotelaria, porque é um destino turístico forte. Por outro lado há muitas autoestradas, o que não havia de todo». A missão da AMI no Sri Lanka não foi um ato isolado. Nasceu uma ligação de amizade e ajuda tornou-se permanente, Fernando Nobre explica que, nos últimos dez anos, a AMI já investiu neste país 2,4 milhões de euros em reconstrução de casa, na compra de bicicletas e barcos para ajudar a população a sobreviver».
Aparentemente tudo está ultrapassado. Apesar da memória afetiva que os habitantes do Sri Lanka guardam os olhares perdidos deram lugar a sorrisos.”
Nota – O texto e 15 imagens aqui.
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