Trevor Heath
Meteorologia. Pertinaz. Misteriosa. Imprevisível. Fugidia a conjecturas do Borda dÁgua ou especializadas. Fascinante até no temor que pode inspirar. Trágica se é chegado o momento de perder energia acumulada. Sedutora pelo encanto ou magnificência. Por tudo feminina. À mulher presenteando com beleza acrescida quando reina o sol. Como hoje. Como nos muitos dias cálidos. Como no alvor do Verão. E vem o apetite pelo desnudar a pele, pela liberdade do corpo, subida a tensão erótica e o desejo de a diluir. Vem a leveza no estar, o gosto pela frivolidade e pelo colo atrevido, pelas pernas de cetim dourado brilhando à luz.
As calças remeto ao escuro dos armários. Quero vestidos, saias que esvoacem ou moldem a figura, sandálias de salto presas por tiras aos pés. Preciso de alças e ombros nus. Dispenso a lingerie ou uso-a em tons alegres. Quero branco e valentia nas cores. O preto confinado à íntima sedução. Ou o encarnado. Ou o preto e branco. Guardadas serão as meias encimadas por renda. As camisas. Os cinzentos. Exibidas as infinitas qualidades da condição de mulher.
E há a rebeldia da brisa que faz rodopiar a leveza dos tecidos. O gesto pueril, que tão bem o cinema captou, de prender o vestido à frente se ele insiste em voar. O gosto do capricho - encontrar o bikini fantástico de desenho revivalista. O desejo eliminar fronteiras ociosas, inventar, dar corpo às muitas outras que me habitam. De todas sentir a unidade em que sou. Por todas fruir da meteorologia emotiva. Feminil. Como a Bardot no tempo áureo - "Tu veux ou tu veux pas"
CAFÉ DA MANHÃ
Allan Davidson – “Brigitte Bardot” Peter Engels – “Brigitte Bardot St Tropez France”
Brigitte Bardot é a antítese – antítese marxista, mesmo – de Marilyn Monroe. O léxico de BB nem sequer incluía a palavra “sexo”; já o léxico de Marilyn não precisava de mais nenhuma. Têm ambas as mais subtis e maravilhosas curvas. Mas há uma cruel luta de classes a separar a lábil e citrina geometria de cada uma delas. Bardot casou virgem, com o enfant terrible Roger Vadim. Era pelo menos o que pensavam os selectos pais dela. A forma como Bardot casou virgem sem ser já virgem é que faz toda a diferença entre o mundo dela e o de Marilyn.
Os pais tinham autorizado o namoro de BB e Vadim. Namoro à vista. Para dialécticos saltos qualitativos, encontravam-se às escondidas. No primeiro encontro BB perguntou ao amado: “E agora, já sou mulher?” Ele foi sincero: “Já és 25%.” Ao segundo encontro, a mesma pergunta e Vadim, ofegante, terá dito: “Já és 75%.” Ao terceiro encontro, ele disse-lhe o que ela já não precisava que ele dissesse e Brigitte, abrindo as portadas da varanda de um recluso quartinho, gritou para uma estreita rua de Saint-Germain-des-Prés: “Já sou mulher.” Os aplausos do bairro fizeram-na perceber que estava deliciosamente nua.
Bardot era uma nua menina de liceu, desses franceses anos cinquenta em que o amor se começava a conjugar transitiva e intransitivamente com o sexo. Era inocente e, pasme-se, (…)
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros