Mariola Bogacki
A Bita ligou, mal era chegada do Oriente, bússola de (des)encontros, o Carlos ausência no vaivém dramático que a distanciava do metal ido. “Leia as mensagens, por favor! Da primeira para a última. Diga-me o que devo fazer.” No táxi, ainda enjoada pela oscilação do Intercidades escolhido pelo horário, li a meia dúzia de mensagens reenviadas. Dela e dele. Proposta de encontro. O sim inesperado. “Marco, ou não?” Ele havia de acordar cedo. Ir para fora de Lisboa. A Bita de voltar aos filhos – não a preocupava o asno/ex-marido que se impunha na casa da família, fora do redil até segunda.
Mais de um ano contava desde a última partilha de lençóis e prazer repetido. Ainda no táxi, a fala entrecortada ao saber-se ouvida, pela censura vigilante da casa, pelo pudor, pela infinitude do desejo. Na incompreensão do diálogo, sugeri espera. “Deixe-me chegar. Leio atentamente e ligo.” recisava de entrar no lima e ameixa. De encostar frente ao Ernãni Oliveira o nada de cabina. De escarafunchar o telemóvel, durando o fumo duma cigarrilha, na espera do escalda-chávena para o descafeinado lungo. Marquei Bita.
_ “Não fale. Diga que a convido para sair. Marque o Don Pedro. A suite, pode ser. Aquelas meias pretas com liga enfeitada por laços encarnados, que disse ter e iguais às que me deu pelo Natal. Lingerie nos mesmos tons. Espere-o com uma túnica. A de seda comprada quando a minha. Saltos altos. Madeira no perfume. Tem tantos! Nua no intervalo. Vá à casa de banho em bicos de pés. No após, ronrone. Evite perguntas. Não gere clima romântico que sabe ele temer. Grite. É estranho, mas eles gostam como carimbo do desempenho. Do seu prazer não duvido, conquanto o masculino precise de evidências supérfluas. Ridículas para nós. Que ele durma como é costume no depois. E vá e venha. O resto é consigo. “Que sim, faço e aconteço. Beijinho, minha querida.”
Desliguei. Olhei-me ao espelho. Eu que ao momento largo gestos e emoções, pareci-me cronista de revista feminina na coluna “Como Prendê-lo.” Não fazia a menor ideia do sucesso da receita. Sabia-me espontânea e incapaz de obedecer a normas. Porém, dos anos multiplicados em intimidades decantadas e alheias, retivera sins e nãos. Com amigas e confidentes, o sexo não era falado. De filhos, engravidar, gerir rotinas malquistas, inovar amores, empregadas, doenças infantis muitoouvira. Pouco de amantes, além dos filtrados que inscrevia no rol.
CAFÉ DA MANHÃ
Anne Bascove
Pululam os salões eróticos. Este fim-de-semana, o Porto anima-se com o realizado anualmente. Novidade: “aulas de sexo para casados”. À primeira, pode surgir como risível. À segunda, dá para pensar. À terceira, é para levar a sério conquanto pedagogias género fast não inspirem confiança. Ainda assim, é ideia que não me desagrada. Quantos pares acasalados, caem nas rotinas desestimulantes do quotidiano? Insinuado o tédio, a vertente sexual ressente-se. Ora, a imaginação, o desejo de surpreender o amado sem ou com acrobacias estereotipadas – se o forem e corresponderem a fantasias do casal não vislumbro problema -, acompanhados de tolerância e compreensão, de nadas muitos, compõem a gratificação do conjugar vida a dois.
É facto incontestado que nestas exposições eróticas, em vez da maioria de homens sós, entram agora casais em número significativo. O espírito voyeur, quiçá esteja presente e julgo não fugir da realidade, em si não é um mal. Todos, de um modo ou doutro, o possuímos mesmo se aplicado à observação de quem se cruza connosco. E se há curiosidades obsessivas apenas focadas no sexo, sem outras o conhecimento humano restaria primário.
CAFÉ DA MANHÃ
Conforto no sobre a pele e calçado. Abdómen tenso, ombros bem colocados, caminhada de alguns quilómetros numa das mais belas e recentes manchas verdes da 'Grande Alface'. Água em cascatas e lagos. Papiros nas margens. Saltitar de laje em laje. Depois, retomar a cadência do passo e da respiração. Olhar deslumbrado pelo sol. Que se danem congressistas confinados! Começava eu, acabavam eles. Os (i)lustres, quais pendericalhos, suspensos dos tectos onde se julgam. Já mereciam, «tadinhos»! Em Mafra, espiolhados pelas comunicações sociais.
Gostei do Marques Mendes. Empolgado, foi directo e veemente. Recebeu aplausos devidos ao ex-líder e à intervenção. O resto foi clássico de futebol. E nem interessa se entre dragões e mouros ou mouros entre eles. Detalhes (des)casados: quem teve maior bater de palmas, quem alienou ou convenceu. Comentadores com (re)nome, ansiando ganhar o «seu», foram tempo de antenas e soma à mediatização. Alguns botaram discursos «acadelados» pelos interesses anteriores e posteriores. Maralha que diverte os portugueses sem dela entenderem o insulto:
_ Não existindo, como o «povão» analisaria, criticamente, o testemunhado?
Mas, à mesma, analisava e criticava e pensava:
_ Que cambada!
Não acontecesse estar o país necessitado de oposição adulta e responsável, mais Mafra, menos Mafra seria indiferente. Espantam-me os pacientes que ficaram noite dentro com olho assestado na portagem para, frase puída, “melhor Portugal”. Tanto espalhafato para acabarem rolhados!
Em vez de catarem líderes, melhor fora catarem sofás em hotéis de luxo. Desde pins a ouros, muito é possível encontrar. Basta penetrar entre bordas macias. Prazer risonho durante e depois.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros