Por ser uma só a raça dos homens e dos deuses, deixem que vos traga os primeiros versos da 7ª Ode Olímpica de Píndaro. Passaram mais de 2.500 anos e é a mesma a águia que rasga os céus. Marco Valério Marcial, romano da grande Hispânia, à águia que levava nas suas asas o deus dos deuses, perguntou: “Diz-me quem transportas tu, ó rainha das aves?” A nós, diria eu! O povo rubro que, em festa, enche as ruas de Portugal.
VII Ode Olímpica
Como alguém que, com a mão opulenta,
ergue a taça, onde espuma o rocio da vinha
e a oferece a seu genro,
brindando em nome da sua casa pela dele,
– taça que é de ouro maciço e o mais requintado
dos seus tesouros — para honrar o banquete~
e a nova aliança, e causar emulação
entre os amigos presentes
por tão bem logrados esponsais,
assim eu, mandando aos atletas vitoriosos
este líquido néctar, dom das Musas,
doce fruto do espírito,
dou alegria aos vencedores de Delfos e Olímpia.
Felizes aqueles a quem cerca a fama gloriosa!
Nota – Artigo de Manuel S. Fonseca aqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Gosto da festa da vitória, mas confesso que gosto mais do jogo. Das virtudes do jogo e das virtudes que vêm com o jogo.
E, hoje, na festa da vitória, na Catedral, quando os jogadores do SLB iam passando com os filhos às cavalitas e Luisão beijava a mulher na boca, algumas das virtudes do jogo tingiram felizmente a festa: inocência, afecto, camaradagem e o paraguaio Cardoso a apontar para a imagem de Eusébio, dizendo “é para ti”.
Os jogadores do Benfica iam falando à televisão e retive duas coisas. Creio que foi André Gomes que, perguntado sobre o que significa ser campeão, disse que era “dar alegria aos outros”. Depois, ou já tinha sido antes, Steve Vitória, jogador hercúleo, massa muscular luso-canadiana, com o que era pouco mais do que um bebé nos braços, disse: “Este é um grande clube para ser ser campeão, um grande clube para se fazer a festa com um filho ao colo.”
Hoje, dia da ressurreição de Jesus (que ao contrário do Pedro eu tive a tentação de crucificar no fim da época passada), a minha alegria é estar nesta festa em que um homem pode levar um filho ao colo.
Texto de Manuel S. Fonseca no “Escrever é Triste”
CAFÉ DA MANHÃ
Judith Forrest, Lisa Fittipaldi – Lisbon
Semana que começo na ignorância dos realces informativos dos últimos dias. Vai sendo hábito quando situações importantes se agigantam. Há que vivê-las, resolvê-las ou, no mínimo atendê-las. No tempo de fruição que resta, escasso, entre os prazeres comuns observar quem passa ao redor, os gestos anódinos de gente anónima. Ler o visível, fantasiar o invisível. Tomar consciência dum povo cujos ancestrais foram pobres, transmitiram em herança pobreza suavizada nalguns casos, noutros a mesma que os afligiu. A conformação, a capacidade de sofrimento, a desesperança. E dói que gente boa viva com o fito único de trabalhar, de levar alimento para casa, sem que alguma largueza alivie quotidiano sofrido.
Ideio que tudo está ao contrário: _ trabalhar para viver com dignidade, sim, não o inverso. Mas é neste último paradigma que por cá e noutros mui desventurados cantos pobres do mundo as pessoas desfazem os dias. Interiormente, desmoronam-se pela injustiça de estruturas desmioladas que as têm governado, distraídas da equidade social como decisivo factor de paz. E olhares embaciados mereciam reflectir luz, erectas as espinhas curvadas pelos desmandos dos mandadores.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros