Foi um “VáVáDiando” memorável. O convidado Valter Hugo Mãe seduziu a audiência pelo seu pensar na escrita e na vida, pela sua comunicação fluida, genuína, isenta de tiques «intelectualóides». Vivo o diálogo gerado entre ouvintes e o ouvido.
Dados biográficos
No ano de 1999, Valter Hugo Mãe, nascido em 1971 em Angola, começou a obter reconhecimento público por via do “Prémio Almeida Garrett”. Em 2007, foi-lhe atribuído o “Prémio Literário José Saramago” que o viria a tornar escritor famoso em Portugal e além-fronteiras. Durante a entrega deste prémio, José Saramago classificou a ficção “o remorso de baltazar Serapião” como um ‘tsunami literário’: _ "Por vezes, tive a sensação de assistir a um novo parto da Língua Portuguesa."
Valter Hugo Mãe viria a receber outros galardões: “Grande Prémio Portugal Telecom de Literatura Melhor Livro do Ano, São Paulo, 2012” e ainda no mesmo ano o “Grande Prémio Portugal Telecom de Literatura Melhor Romance do Ano, São Paulo”. Imparável e com múltiplos talentos, expôs os seus desenhos na Galeria Símbolo (2007), estreou-se na música como vocalista do grupo “Governo” (2008) no Teatro do Campo Alegre.
“Os quatro primeiros romances do escritor são conhecidos como a tetralogia das minúsculas. Escritos integralmente sem letras capitais, incluindo o nome do autor, pretendiam chamar a atenção para a natureza oral dos textos e recondução da literatura à liberdade primeira do pensamento. As minúsculas aludem também a uma utopia de igualdade. Uma certa democracia que equiparava as palavras na sua grafia para deixar ao leitor definir o que devia ou não ser acentuado.”
CAFÉ DA MANHÃ
Leszek Sokol
Valter Hugo Mãe, Joel Neto, Manuela Costa Ribeiro e o ilustrador Paulo Sérgio Beju, participaram em 2012 no II Festival Literário da Madeira. Um dos temas em debate foi "Éramos piegas e não sabíamos - Como a lamechice pode mudar a nossa vida." Segundo o concluído, os portugueses são todos profundamente piegas. Recentemente, o mesmo ouvimos do governante maior. Sucedeu após, escândalo justo e coletivo dos cidadãos que dos bolsos rotos e do desemprego se queixam. Piegas, nós?
Valter Hugo Mãe iniciou as «hostilidades»: "Eu já sabia que era piegas para aí desde os três anos. E para exemplificar a sua pieguice, contou, em seguida, que atingiu em dezembro último um ponto de exaustão tal que mesmo as coisas que em circunstâncias normais lhe fariam bem lhe faziam mal, que se recolheu em casa, pensando que podia ver um bocadinho de televisão, que o distrairia. Enquanto fazia 'zapping', encontrou uma telenovela com uma mãe e um filho "que era um estafermo", e a relação entre os dois comoveu-o tanto que, nos dias seguintes, deu por ele a pensar que talvez fosse a hora daquela telenovela e, muitas vezes, era. E sempre que viu aquelas personagens, chorou.”
Joel Neto comentou: “Eu não sei bem o que é ser piegas, confesso. A Adília Lopes tem um verso que diz: ‘Eu sou sensível, não sou piegas'. Para perceber melhor o conceito, consultou o dicionário, onde se lia que piegas é "aquele que se preocupa com coisas comezinhas, sem importância", e concluiu: "Nesse caso, então, sou absolutamente piegas, porque prefiro emoções exacerbadas a nenhuma emoção.”
Já Manuela Costa Ribeiro iniciou a sua participação dizendo: "É uma alegria comovente estar aqui". Confirmada a sua pieguice, avançou por tema que me é caro: estados de espírito indicados para determinadas leituras, da leitura certa no momento certo. Referiu o cuidado que preserva na escolha dum livro depois de ler qualquer um da Hélia Correia. Ora o mesmo acontece comigo: fico em pousio até diluir/digerir as palavras sábias da escritora referida. Com “o Vento Assobiando nas Gruas” da Lídia Jorge, o mesmo. A propósito de pieguice e lamechice, citou "Todas as Cartas de Amor são Ridículas", de Álvaro de Campos, sugerindo o exercício de se substituir "cartas de amor" por "portugueses de hoje" e depois "cartas de amor" por "governantes de hoje". "E se, em vez de ridículos, dissermos 'piegas', deixa de ser esdrúxulo e passa a ser grave". Pelo noticiado, o público riu e aplaudiu. E não aplaudiríamos todos?
Paulo Sérgio Beju apresentou-se: "Não sou escritor, sou ilustrador, ilustra-dor, aquele que ilustra a dor" e avisou comunicar por imagens, que foi comentando. Mostrou alguns dos seus trabalhos, entre os quais a porta de um bordel que pintou numa rua do Funchal, com um céu azul e algumas nuvens e, a vermelho, a palavra "Encantos" e que já não existe assim - foi pintada de preto, ele não sabe porquê -, falou do amor, leu excertos de um texto de Yvette K. Centeno em que um homem e uma mulher dialogam, e confessou-se um romântico e, claro está, piegas.”
Sejamos, então, dignamente piegas.
Nota: informação retirada daqui.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros