Emily Zasada – Cup of Coffee and Pie Slice
Encantam-me lendas, mistérios e contos tradicionais que de boca em boca são perpetuados. Dos enigmas que algumas expressões populares encerram, procuro respostas. Até agora, a «rede» e os «antigos» forneciam explicações, nem todas nem sempre fiáveis. “Eis senão quando”, seria gosto desta comummente usada conhecer o porquê, entretendo ócio em presença de uma «bica» pousei o olhar no pacote de açúcar complemento. Porque aprecio sabores puros seja do café, do chá, duma limonada, duma salada de frutas, costumo deixar intactos pacotes de açúcar.
De regresso ao momento de lazer na esplanada com café na mesa. No pacote da doçura aparentemente banal, rezava a frase “tirar o pai da forca” e a lenda explicativa anexa. Persisti na atenção a outros que publicitassem o café Chave D’Ouro e me fossem postos na frente. Até ao momento, cinco. Partilho o aprendido:
“Levar um puxão de orelhas”
- Significado: repreender.
- Origem: as Ordenações Afonsinas prescreviam que os ladrões tivessem as orelhas cortadas. Vasco da Gama relatou o corte de 800 orelhas e Gomes Freire recebeu 7800 delas. Mais tarde, as orelhas deixaram de ser cortadas e passaram apenas a serem puxadas.
“Cair que nem tordos”
- Significado: cair em grande quantidade, queda fácil.
- Origem: a caça. Os tordos voam em bandos densos e, quando atingidos por um tiro de caçadeira que dispara muitos chumbos em simultâneo, caem em grande quantidade. Com só tiro são mortos vários tordos.
“Dar um lamiré”
- Significado: sinal para começar algo.
- Origem: trata-se da forma aglutinada da expressão ‘la, mi, ré’ que designa o diapasão, instrumento musical usado na afinação de instrumentos musicais ou vozes. A frase foi-se popularizando designando qualquer sinal que dê começo a uma atividade.
“OK”
- Significado: está tudo bem.
- Origem: durante a Guerra Civil Americana, nos dias em que não havia baixas, os militares americanos penduravam tabuletas à porta das casernas com as iniciais “OK” que significava 0 killed (zero mortos). A moda pegou e, hoje em dia, é das palavras mais ditas em todo o mundo.
“Tirar o pai da forca”
- Significado: ter pressa.
- Origem: Santo António estava em Pádua e teve de ir apressadamente a Lisboa para salvar o pai da forca. Lenda conhecida que tem atualidade neste século onde todos andam apressados como quem vai tirar o pai da forca.
CAFÉ DA MANHÃ
Hendrik Goltzius
Dei cor à normalmente negra televisão. Sexo como tema em debate. Aguentei duma hora, soube depois, um quarto. Amiga atenta a debates tem, entre outros, o mérito de me informar da fração útil que deles retira. Findo o repasto televisivo, veio crítica globalmente severa. Além da fatuidade, sublinhou «peito» por mamas e «fazer sexo» por «estar em sexo». Parecendo-me equivalente a estar em trabalho ou em viagem, questionei-me e a quem o pensar da nossa língua vicia.
Fornicar, copular, foder são palavras do nosso léxico. Quem as rejeita dirá que estar em sociedade obriga a decoro no discurso. Prefere as expressões «fazer sexo» ou «fazer amor». A primeira realça uma função biológica e asséptica; a segunda atribui à cópula afeto como agrada aos herdeiros da tradição cristã. Essencialmente, distinções ociosas. Pelo herdado de antanho, preferimos «delico-doçuras» para exprimir o sabido.
No canto nono dos Lusíadas, é descrito paraíso à época muito semelhante ao recém-descoberto Brasil. Depois de alcançarem Calecute, Vénus premeia navegantes. A deusa industria as ninfas para se ocultarem, depois revelando-se com sabedoria, como faria qualquer competente patroa de uma casa de putas. Os marinheiros fodem com as ninfas nos “canteiros”, que é como quem diz, pelos cantos. Vasco da Gama é brindado com os favores de Thétis no luxo do palácio em cristal. O marinheiro Leonardo, desgraçado nos amores até ali aportar, logrou ninfa rendida. Ele “desfeito em puro amor” - ejaculação precoce suavemente descrita. Pelas desventuras e meses nos oceanos, restava àqueles homens a masturbação e a homossexualidade. A “Ilha dos Amores” simboliza bem-aventurança maior: encontro com o divino pela fornicação abençoada.
Na magia negra, há a visão satânica de fornicar com o diabo. Lambê-lo. Atingir o prazer máximo mulher que ele penetre. Fausto, vendido ao demónio a troco de duas dúzias de anos sem envelhecer, também associa ao maligno os prazeres da carne. Nem a magia branca do amor de Margarida poupa o amante ao Inferno.
Sodoma e Gomorra foram aniquiladas devido (...)
Nota: texto completo no "Escrever é Triste".
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros