Autor que não foi possível identificar, Janet Hills
Cebolas a um euro e dez cêntimos. Dava voltas à rede averiguando ultraje na pele estaladiça. Nada. Tamanho médio e bem conservadas.
_ Vão estas!
Ele aproxima-se e sussurra:
_ Aquelas são vinte e quatro cêntimos mais baratas!
Fizeram silêncio a condizer com o momento.
_ Que dizes?
_ Não sei, tu é que vês.
Decidida:
_ Vão estas. Poupamos a diferença noutro lado. E é Natal. Para o ano, sabe Deus se por cá andaremos.
Ambos baixos. Ele mais do que ela, também na curvatura das costas. Enrolavam-se no pequeno mundo que importava. De tempos mais vistosos havia registo nalgumas das peças que vestiam. Usadas, não coçadas, antecipando hábitos económicos: para casa «marcha» a roupa de uso que permita abrir a porta sem rubor envergonhado. O cachecol dele, por exemplo, pura caxemira. O casaco comprido dela há muitos anos deixara as mãos da modista, mas fora feito à medida, via-se.
O agigantado carro promotor do consumo somente tinha o fundo repleto. Chocolates. Ovos. Canela. Açúcar. Leite. Óleo. Farinha e abóbora. Para a sopa ou para os fritos do Natal.
_ Chegam na sexta, não é?
Ele assentiu ao ruminar: o mês está difícil, mas como lhe brilham os olhos ao preparar a casa para receber os filhos e os netos... Merece tudo, ela. Boa mãe e companheira. Lembrou-a, mão na mão, ao subirem as escadas do Centro de Saúde. Como do outro pressentiam o hesitar do coração medido pelo cansaço... Cedeu. Legitimou na face uma lágrima. Tão cristalina como na infância traquinas quando era castigado ou na juventude poderosa derramada em África. A mulher escolhia o bacalhau. Ele tirou do bolso o lenço e secou a emoção; depois, assoou-se.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros