“Minha vida era um filme mudo em preto e branco, aí você apareceu e coloriu até o buraco negro onde habitavam meus sentimentos.”
"Pinto os cabelos de preto para os encontros amorosos e de branco para as reuniões de negócios."
“Vou colecionar mais um soneto Outro retrato em branco e preto A maltratar meu coração”
“A sombra do branco é igual à do preto.”
“O estudo da metafísica consiste em procurar, num quarto escuro, um gato preto que não está lá.”
“Liberdade não é poder escolher entre preto e branco mas sim abominar este tipo de propostas de escolha.”
Theodore Adorno
“Infância - A vida em tecnicolor. Velhice - A vida em preto-e-branco.”
“Preto e branco é poesia é nostalgia, é atemporal.”
"... mas preciso de magia. Não consigo viver em preto e branco."
CAFÉ DA MANHÃ
Heather Neill
É trivial o parecer que de mulher simples não sejam esperados voos geniais. Assunção para quem julga despiciendo carregar no ventre vida nova, pari-la, dar-lhe os seios noite e dia, cuidá-la, educar, dar ombro, ternura e afecto à família, empenho no trabalho, regressar com carregos do «super» e filhos pela mão, providenciar janta, dar banho à pequenada e, após dormidos, coser a bainha esgaçada na camisa do seu homem, engomar até as costas vergarem. Dia comum repetido no seguinte.
Que à mãe trabalhadora portuguesa, paga minguada e menor que a masculina, não sobre tempo para muito mais é previsível. Ainda assim, inúmeras ocupam horas que deviam ao sono em atividades cívicas: ajudam a idosa vizinha, oferecem o mimo dum sorriso aos que precisam. Tudo somado não faz delas geniais? Somente as que escrevem no conforto do escritório, as que se destacam na política ou nas artes ou na gestão de empórios merecem aplausos e reverências públicas? Salvo para aproveitamento partidário, quem menciona esta força/alicerce que respeitada e protegida faria melhor o país? Esperam-nos gerações desesperadas pelo crescer penoso, revoltadas contra as injustiças que vitimaram os pais?
Mulher simples, declaro-me. Ido o tempo dos afazeres multiplicados, conquanto substituídos por outros, tenho o privilégio de ocupar ócios com leitura, escrita e pintura. Pois a simples deu em iniciar manta de croché. Com prendas na área do tricô, do ‘ponto de cruz’ e da costura - ‘bordado cheio’ e renda saídos dos meus dedos foram desastre. Aventuro-me agora a tomar o gosto de uma só agulha nas mãos misturando lãs multicolores. Construir. É desafio continuado dar labuta aos neurónios e, através deles, ao fazer. Em cada laçada, esperança, em cada quadrado, a certeza do “consegui!”. No mundo das pequenas coisas, as grandes podem segui-las.
CAFÉ DA MANHÃ
Rem Koolhaas
Vinicio Capossela «concertou» na Casa da Música. Desconcertou alguns _ ignoro se muitos pela inexistência de sondagem à boca da saída. Desconhecia-o. Curiosidade espicaçada pelo baptismo de “Tom Waits à italiana”, esmiucei o YouTube. Porque o desejo de mais saber é como as palavras e as cerejas, nunca em demasia, passei do tal Capossela para a cerâmica, desta para a arquitectura e regresso ao Porto. Fio condutor: a Casa da Música. Recursos: diálogo aceso com portuense crítico e Google para a imagem.
Nunca entrei no diamante em betão postado na Rotunda da Boavista pelo arquitecto Rem Koolhaas. Chegada ao Porto, inicio-me no Passeio Alegre, deslizo rente ao ondular do Douro quase marítimo, e só depois experimento surpresas. Que as há em cada volta à cidade-amor. Sensual pelos aromas, colinas expostas e esconderijos benignos a carícias aos horizontes cortados por verdes frondosos.
Ontem, ficou assente testemunhar da Casa a acústica _ disseram-ma das melhores do mundo _ assim haja apelo na programação. Mirar os azulejos que enobrecem a sala VIP, homenageando a bela arte da cerâmica portuguesa que me rende (a estação de S. Bento é mostra excelente). Distorcer a visão pelo vidro ondulado, parede da mesma sala.
A voz crítica portuense não descurou menoridades e perversidades da Casa da Música: concepção como auditório, sem fosso de orquestra que permita espectáculos de ópera quando no Porto é omisso espaço decente para idêntico fim; os milhões envolvidos permitiam mais valências, ou a construção de dois espaços que as satisfizessem.
Quero de volta Serralves, a “Árvore” dos meus encantos, deambular entre granitos. Contornar o disparate do mui querido Siza na Avenida dos Aliados, bisbilhotar, em Matosinhos, a “Casa de Chá da Bora Hora” e a “Igreja de Stª Maria” que assinou.
Nota: a versão Photoshop da azulejaria concebida por Rem Koolhass não diminui beleza ou mérito. Augusto Cid utilizou processo semelhante nos painéis que ornam as «patas» do viaduto frente ao Jardim Zoológico, em Sete-Rios. Merecem olhares.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros