Mulher do século XXI – Bravo da Mata
Assassinam-nas quando a relação entorta. Maridos, companheiros, namorados estão incluídos nos 71% dos agressores. «Ex» são, entre eles, 19%. Somando as duas parcelas no quadro da violência doméstica, temos que em cada dez assassinos, nove estiveram afetiva e/ou emocionalmente envolvidos com as vítimas.
É frequentemente letal para mulher que negue continuar num relacionamento moribundo o síndroma da rejeição de que padecem alguns homens. Vieram a lume números inquietantes a partir da comunicação social. A violência doméstica mata mais mulheres que o cancro da mama. Nos dez meses deste ano, dezenas foram assassinadas e centenas estiveram à beira do mesmo fim ao decidirem retomar a vida sem aqueles com quem partilharam um amor. Nos dados obtidos, são notícia homens vitimados por razões semelhantes, todavia em número residual, mais os que decidem procurar tratamento clínico antes dos comportamentos agressivos surgirem.
Para alguns homens, “até que a morte nos separe” é literal. Mais fundamentalistas do que a Igreja Católica que no ritual do casamento a idêntica jura obriga nubentes. O perigo social destes machos violentos advém das crianças e familiares serem vítimas potenciais. Bombas-relógio que atingem, preponderantemente, mulheres na faixa etária dos 36 aos 50 anos, seguida pelas maiores de 51 anos. Quase todas, sujeitas a décadas de maus tratos. Nestas situações, é leviandade afirmar “quem está mal, muda-se”, como se num estalar de dedos a tragédia se evaporasse.
CAFÉ DA MANHÃ
Anne Bascove
Sobre violência doméstica, escreveram mulheres. Quero-as em honrado lugar nesta chaminé virtual.
“(…) Assunto que nenhuma mulher pode ficar indiferente.
Mas sim, começa muito mais cedo, começa com o primeiro estalo, com a primeira sova e infelizmente não tem a ver com a educação que se recebeu.
A violência doméstica, e estou a falar da do macho, é transversal a toda a sociedade portuguesa, desde a melhor educação à pior, desde o meio económico mais alto, até ao mais baixo.
A violência doméstica é uma questão de carácter, não de educação, por isso existir em todos os meios sociais e económicos.
Só lhe posso garantir que sei do que estou a falar.
Quanto mais alto o meio, mais calada é a vítima.
Vir falar da violência doméstica no feminino, que também há, como argumento, é profundamente demagógico.
Sair desta teia de violência e de pedidos de "perdão" é extraordinariamente difícil, porque a maior parte das vítimas, sofrem do "síndrome de vítima".
(...)
A educação não altera o caráter de nenhuma criança. Há bom ou mau caráter e a educação, estou a falar da considerada "a melhor educação" não muda o caráter, dá-lhe um verniz que estala na intimidade, às vezes noutros locais, também.
Nos "mais educados" ou de nível económico mais alto, normalmente esse mau caráter só aparece na intimidade, porque "o social" tem ainda um grande poder dissuasor.
As vítimas, são vítimas, e não há nada, mas nada, que elas possam fazer que justifique a cobardice de um homem bater numa mulher, quanto mais matar.
Vá ver o que é "síndrome da vítima", para tentar perceber.
O que há a fazer, é ao primeiro estalo metê-los na cadeia, porque felizmente já é crime bater numa mulher.
Esqueci-me de dizer que violência doméstica sempre existiu, só que de há uns anos, poucos, para cá é crime, por isso aparecer nos media.”
Ika
“(…)Também eu, infelizmente, sei o que é Amar-se (e como amei, talvez, Ame para sempre, não por ser masoquista, mas porque sempre será o Grande Amor da minha vida, aquele em cujas mãos depositei uma confiança cega, aquele que fez brotar vida em mim), alguém cujo prazer máximo é a humilhação do cônjuge, que ofende, que maltrata, até chegar a vias de facto, que nem nos confere dignidade suficiente para nos podermos indignar perante comportamentos ínfimos, desprezíveis, tantas vezes calculados por mentes verdadeiramente fracas e inseguras, cuja conceção de amor passa pela anulação do outro, pela submissão.
A estratégia de inversão das situações é a arma manipulatória de excelência.
A educação é como uma escultora (passo a intertextualidade com Yourcenar) de uma matéria cuja essência não muda, apenas se vê lapidada. E, depois, com a ascensão social verificada via estudos académicos, há quem tenha títulos pomposos e berços de fraca índole, não por serem humildes, pois há tanta gente humilde educada, mas pelo complexo de inferioridade facilmente expresso na arrogância, na vontade de humilhar e de pisar.
Hoje, depois de tudo, creio também tratar-se de casos de profundos desequilíbrios psíquicos e até psiquiátricos...O saco de pancada escolhido é uma pessoa especial para esta gente - é a única perante a qual despem a capa de cavalheiros e assumem a de carrascos.
Mas, claro que também há mulheres agressoras, vis, vingativas, criaturas cuja frustração e má formação as leva ao mesmo comportamento.
Enfim... A minha solidariedade para com qualquer vítima seja ela uma criança, uma mulher ou um homem. E o meu total desprezo perante uma sociedade de cobardes hipócritas que fingem não ouvir os gritos e se mostram surpreendidos com algo que sempre souberam. Não raro é vê-los porem-se do lado do agressor, principalmente, se os seus bolsos estiverem bem recheados. Neste país onde a hipocrisia mancha as faces, a história continua a ser contada pelos vencedores (pensam eles, coitados quando, de facto, são os vencidos da vida, principalmente, quando o que lhes resta de consciência os corrói, mesmo que ao mundo jurem inocência caucionada pelo carro último modelo e fato de bom corte.”
Ana S.
“Estereótipos que implodem no vislumbre profundo da complexidade da vida que, lamenta-se, não encaixa nas nossas verdades ‘ready made’(...)”
CAFÉ DA MANHÃ
Autor que não foi possível identificar
A Bita. No ecrã, origem desconhecida; pela hora, certa a origem. Por isso atendeu – de costume, recusava ‘anónimo’. Voz grave. Desconcerto para quem lhe conhecia o saltitar alegre do “A menina como está?”. Meavam fala com risos. Partilhas que o relógio esquecia ou comprimia se era imposta a crueza normativa do trabalho. Mas fora o “Bom dia!” esquecido e a fatalidade esgueirada sem fiosque cavaram sulcos preocupados. Do “que aconteceu?” soube a resposta:
_ Partiu-me o pulso!
Silêncio. Interrompeu-o. Quis saber mais do que sabia: a partilha, tensa como funda esticada e pedra na ponta, da casa de família com o futuro ex-marido dentro. Os filhos testemunhas e vítimas da agonia conjugal. Das perfídias. Das réplicas violentas. Da agressão mútua. Psicológica até ao momento.
_ Cheguei do hospital. Engessada, mas sem dores. Foi quando saía de casa para as compras de sábado. Puxou-me. Tentei escapar. Agarrada, torceu-me o pulso até o sentir ranger. Os miúdos ainda dormiam. Eu, só. Fugi, chamei um táxi e fui para o São Francisco Xavier.
O tom monocórdico respirava anestesia.
_ Estou bem.
Sem lágrimas, soube da polícia que a acompanhara desde a entrada na urgência. Do remedeio clínico, da ida à esquadra, do auto lavrado, do regresso na viatura policial. E as lágrimas e as palavras que não iam nem vinham. _ Vou dormir. Tenho o irmão dele comigo. Se precisar ligo, minha querida.
CAFÉ DA MANHÃ
Kenney Mencher
- “A única mulher que sabe sempre onde está o marido é a viúva.”
- “Do que precisa uma mulher? De um homem que o seja de tal modo que prove nem todos os homens serem iguais.”
Exemplar dupla de dichotes propalados aos ventos sete entre mulheres. Ora, se tempo houve em que a generalidade das mulheres eram subservientes dos respectivos, mudando vontades e o tempo, daquela espécie existem a cada dia menos - a fábrica que as produziu está em bancarrota e apenas dispõe em stock moldes velhos. Ainda assim, por dependência, medo ou pela esperança de regeneração de companheiros violentos, persistem agressões domésticas de que elas são as principais vítimas, conquanto todo o núcleo familiar sofra. É o lado monstruoso do ser humano a vir à tona. A destemperança extremada. O desequilíbrio da «psi» levado a consequências últimas – a morte da mulher ou a sua ruptura mental e física. Depois, nas horas que correm, tanto pode um homem e uma mulher pararem em lugar incerto, enquanto o outro julga o trabalho ou o cabeleireiro razões de ausência. Casais que talvez no circo de enganos encontrem bem-estar. A cada par suas idiossincrasias.
O segundo dito tresanda a feminismo serôdio, como se os desiludidos radicais não julgassem o gineceu todo idêntico, exceptuando a mãe. Qualquer homem ou mulher, havendo amor gratificante, cumplicidade e espírito solidário que afecto intenso traz por arrasto, considera especial a(o) companheiro. Daqui, a mencionada precisão afectiva duma mulher ser, em muito, análoga no masculino. Também nestes particulares há convergência nos géneros. Mas benditas sejam as diferenças que os genes comportam e enriquecem a diversidade dos humanos!
CAFÉ DA MANHÃ
Sugestão de Acuçar C.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros