Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2013

"ATÉ QUE A SOGRA NOS SEPARE"

 

  

Beryl Cook

 

Estacionou num ápice. Pelo encosto ocioso à lata que ao lado pernoitara, diria a manobra compatível com egoísta e solitário condutor. Saiu um homem elegante, grisalhos encantadores, harmónico no conjunto. Entre o fecha a porta e abre o porta-bagagens, prodigalizou posturas para detalhes traseiros. As calças caíam retas, sublinhando do redondo o empinado bastante. Da porta/janela do 5º E, constatei abundante o revestimento capilar do cocuruto. A agilidade denunciava físico harmónico com a energia mecânica que da química celular recebia substância e invejável tónus. Perfeito. Raridade numa Lisboa onde mulheres bonitas são constantes e escassos os homens congregando méritos para olhares demorados - humanos peões, que dos automobilizados pouco sei, salvo o olhar de ‘carneiro-mal-morto’ com o qual enfrentam o dia (in)útil. Acordam rezingões, de mal com o mundo e com a respetiva, olhos intumescidos pelo sono na ‘cara-de-mete-nojo’ que é o “Pão nosso de cada dia”.

O homem do cocuruto com sementeira grisalha e traseira persuasiva fechou a porta do BMW ‘cor-de-tacho’. Resmoneei: outro, como eu, apressado na aquisição da lata-andante que se abstém de encomenda personalizada e arranca do stand com o pronto-a-sair como pão quente. Para si justificando o modesto contentamento pelo garantido disfarce da lama e dos excrementos da bicharada voadora. Pelintras, ele e eu, cuja poupança nas lavagens constituí valor acrescentado. Adiante.

Cigarrilha a meio, vi o ‘traseiro-sem-defeito’ iniciar a transladação da bagagem. Ato de somenos, não fora mão sapuda abrir a porta dianteira. Lata com lata paralela, não augurei fácil a saída. Uma perna, outra, um tronco feminino farto em carnes e encimado por ‘louro-mata-cãs’ ensaiava escapulir-se pela fresta disponível. O homem, nada! Imperturbável, ia e vinha carregado de entulho. Indiferente à sogra (mãe soia merecer cuidados ali omissos). A mãe da sócia definida pelo contrato conjugal ou equiparado como incómodo tedioso. Não bastando às mulheres o vaticínio de vítimas precoces de apetites frouxos traduzidos em sinónimos do “comia-te toda!”, do humor e frescura da pele subordinados ao SPM, espera-as a fatalidade da osteoporose e a condição de sogras. 

“Monster in Law” ou “Até que a Sogra nos Separe” é filme menor. Viola, Jane Fonda, depara-se com um amanhã comezinho sem âncoras profissionais e afetivas que a sustentem. Inferniza, como pode, a vida da prometida nora, Jennifer Lopez. Duas mulheres, um homem – razão, culpa e pena. Amante da geometria, sempre tive por desengraçados os triângulos. Além do mais, nos retos, a hipotenusa remete para os agrimensores ou “esticadores da corda” cuja vida era passada a estabelecerem fronteiras entre domínios. Aqui, a essência da questão: propriedades lembram limites e estes recordam marcos, normas e estereótipos. De todos há fartura em demasia.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:21
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