Kim Rempel – “Carnation” Lauro Corado – “O Menino do Cobertor” Lauro Corado – “Família”
"Como tanta gente jovem na altura, um desejo de ser mãe em democracia.
Um prazer acrescido como se para além de uma bênção tivesse ares de contribuição generosa e solidária para um País novo que se desejava.
Concebido com gosto no Verão de 74, ainda em plena festa, feitas as contas, havia de nascer, imagine-se!, a 25 de Abril de 75.
Atrasou-se.
Já a irmã o tinha feito. Às vezes ainda o fazem comigo.
Mas chegou despachado atravessando uma vereda tão dificilmente aberta pela primogénita.
Isto está demorado, dizia a parteira de S. Miguel, talvez lembrada da aventura lenta do primeiro parto. Vá dar uma voltinha e depois volte.
_ Onde vamos? Sei lá! Talvez à Feira Popular aqui tão perto.
Qual quê? O "piqueno" queria coisa rápida, tinha-lhe segredado que nascesse a 8, era giro para o casal. Era o nosso dia. E foi por pouco.
Às três da madrugada, aí estava o pilinhas e nós que nunca fizemos questão no sexo dos filhos, embasbacados, deslumbrados, surpreendidos por ter feito o pleno. Agora tínhamos um casal e era perfeito.
Politicamente, a festa encardia... Os interesses revelavam-se. O medo crescia. Os exageros também. E em Novembro, de bebé ao colo e filha agarrada às pernas, vi e ouvi aviões de guerra sobrevoando o telhado de casa. E aí desejei paz, desejei que se fizesse uma pausa para pensar, que se arrumassem em novo lugar os restos de uma festa onde havia bebedeira a mais e se começavam a fazer disparates.
O leite começou a escassear e a transição para o biberon era difícil. Ele não aceitava.
Cresceu devagar.
Mas fez-se um homem. Escolheu Belas Artes, não era bem aquilo, acumulou dois cursos e hoje faz o que ama. E ama muito. E eu sou uma mãe orgulhosa de um Manel que só eu chamo de Manuel Pedro.
Moral desta história? Zero. Apenas um menino feito, nascido e criado já em democracia que faz hoje 39 anos. Porque como cantou a Simone (às vezes) quem faz um filho fá-lo por gosto.
E FOI."
Escrito por "Era uma Vez"
Nota - "Menino do Cobertor", tela de Lauro Corado, está em mostra no Museu Grão Vasco, Viseu.
CAFÉ DA MANHÃ
Claude Théberge
Uma das pérolas nas cidades beirãs. Arquitetura digna, nos detalhes, granito como cumpre, museus e igrejas de espanto, comércio vivo, zonas pedonais a servirem-no, gastronomia de excelência – não referir a catedral de seu nome “Cortiço” seria pecado sem remissão. Nas ruas estreitas, afadigam-se gentes laboriosas – injustiça é seguir o preconceito de apenas na região que cerca o Porto, nele também, existe empenho no trabalho a envergonhar o resto de Portugal. Viseu desmente com pundonor.
Da «mouraria» para cima onde o Tejo, já em correria para o mar, é fronteira, excetuando algumas urbes industriais cujo trabalho escravo fez história de revolta, predominam almas conservadoras até ao tutano. Apegadas à fé. Às tradições. Ao bem ser e melhor parecer. À vigilância social.
Dados os pressupostos, configurar franchising do “Bairro Vermelho” de Amsterdão localizado em ruela de Viseu é anacronismo que jamais os habitantes configurariam em pesadelos do piorio. Mas a necessidade é muita, o negócio do sexo deve estar em baixa como todos devido à penúria que por aqui vai e surge espécie menor de Red Light District. Diferenças substantivas neste comércio viseense se comparado com o original: janelas em vez de montras bordejando a rua, vendedoras limitadas, por isto, a exibir seios desnudos ou emoldurados em lingerie chamativa. Salvo arriscarem escadote, da cintura para baixo, nada é vislumbrado pelos passantes e pelos candidatos à subida das escadas. Adivinhação pura do encoberto, o que tanto faz aos precisados ou viciados ou curiosos. Para todos estes é bênção substituir revistas e canais óticos atrevidos por espetáculo privado com cheiro, cores e palpações e o mais que aqui não cabe mencionar.
Indignam-se mulheres - «esposas» ou não – pela concorrência desleal e pela insegurança de circular na rua dos mil olhos e ilusões. Com os maridos, igual, porque atentados ao pudor na forma de convites a esmo às respetivas é ofensa e perigo. Será que a edilidade avança com proibição ou ativa o fisco para do pseudo franchising retirar valias?
É sensato aceitar não ser Portugal um país, mas, pelos poderes instituídos, sítio mal frequentado.
CAFÉ DA MANHÃ
Shirley Bassey e David Bowie comemoram hoje aniversários.
Magritte reinventado, Richard Franklyn
-9ºC em Carrazeda de Anciães, -6ºC na Guarda, - 4ºC em Viseu. Na Europa, a vaga de frio vinda do Norte já matou para cima de duzentas pessoas. Só na Ucrânia, mais de 110, maioritariamente sem-abrigo encontrados sob a neve. E lembro, com gosto, os «pingentes» que na Beira Alta, tempo de férias no Inverno, enfeitavam muros e musgos. Os caminhos, feitos escorregas, para a miudagem fruir. E a garota deslizava; com luvas partia o rendilhado do gelo que debruava fronteiras. Ignorava o perigo nas estradas porque dela o gozo era a região fria, o divertimento, amigos outros que os interregnos entre períodos escolares permitiam rever. Era feliz. Corria o contentamento encapuçada pelas ordens matriarcas, gargalhava ao cair, mergulhava as botas na neve que lhe fazia a graça de cair. Quando o sol arribava, luziam montes, encostas, vales e o chão próximo. O azul despontava lá em cima muito antes da neve enegrecer pelos fumos do corrupio automóvel. E quando luto entristecia a alvura, avançava serra acima à cata da impoluta. Enterrava as pernas até delas mear a altura. Subvertia o desafio das recomendações. E ria e era menina/adolescente/jovem rica do que mais importa: liberdade.
CAFÉ DA MANHÃ
«Pra» aquecer: Fernando Botero. Nasceu em Medellín / Colômbia, no ano de 1932. Pintor, desenhista e escultor de grande originalidade. Conhecido pelas figuras obesas (a sua marca) onde retrata a família, o quotidiano, a vida burguesa, a cultura popular colombiana, animais, flores e personagens históricos. Estilo inconfundível, único, conquanto em Portugal um pintor o imite com enorme distância na qualidade.
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros