Segunda-feira, 19 de Maio de 2014

E FOI…

 

   

Kim Rempel – “Carnation”                                         Lauro Corado – “O Menino do Cobertor”                Lauro Corado – “Família”

 

"Como tanta gente jovem na altura, um desejo de ser mãe em democracia.

Um prazer acrescido como se para além de uma bênção tivesse ares de contribuição generosa e solidária para um País novo que se desejava.

Concebido com gosto no Verão de 74, ainda em plena festa, feitas as contas, havia de nascer, imagine-se!, a 25 de Abril de 75.

Atrasou-se.
Já a irmã o tinha feito. Às vezes ainda o fazem comigo.

Mas chegou despachado atravessando uma vereda tão dificilmente aberta pela primogénita.

Isto está demorado, dizia a parteira de S. Miguel, talvez lembrada da aventura lenta do primeiro parto. Vá dar uma voltinha e depois volte.

_ Onde vamos? Sei lá! Talvez à Feira Popular aqui tão perto.

Qual quê? O "piqueno" queria coisa rápida, tinha-lhe segredado que nascesse a 8, era giro para o casal. Era o nosso dia. E foi por pouco.

Às três da madrugada, aí estava o pilinhas e nós que nunca fizemos questão no sexo dos filhos, embasbacados, deslumbrados, surpreendidos por ter feito o pleno. Agora tínhamos um casal e era perfeito.

Politicamente, a festa encardia... Os interesses revelavam-se. O medo crescia. Os exageros também. E em Novembro, de bebé ao colo e filha agarrada às pernas, vi e ouvi aviões de guerra sobrevoando o telhado de casa. E aí desejei paz, desejei que se fizesse uma pausa para pensar, que se arrumassem em novo lugar os restos de uma festa onde havia bebedeira a mais e se começavam a fazer disparates.

O leite começou a escassear e a transição para o biberon era difícil. Ele não aceitava.

Cresceu devagar.

Mas fez-se um homem. Escolheu Belas Artes, não era bem aquilo, acumulou dois cursos e hoje faz o que ama. E ama muito. E eu sou uma mãe orgulhosa de um Manel que só eu chamo de Manuel Pedro.

Moral desta história? Zero. Apenas um menino feito, nascido e criado já em democracia que faz hoje 39 anos. Porque como cantou a Simone (às vezes) quem faz um filho fá-lo por gosto.

E FOI."

 

Escrito por "Era uma Vez"

 

Nota - "Menino do Cobertor", tela de Lauro Corado, está em mostra no Museu Grão Vasco, Viseu.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:08
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Terça-feira, 8 de Janeiro de 2013

SÍTIO MAL FREQUENTADO

 

Claude Théberge

 

Uma das pérolas nas cidades beirãs. Arquitetura digna, nos detalhes, granito como cumpre, museus e igrejas de espanto, comércio vivo, zonas pedonais a servirem-no, gastronomia de excelência – não referir a catedral de seu nome “Cortiço” seria pecado sem remissão. Nas ruas estreitas, afadigam-se gentes laboriosas – injustiça é seguir o preconceito de apenas na região que cerca o Porto, nele também, existe empenho no trabalho a envergonhar o resto de Portugal. Viseu desmente com pundonor.

 

Da «mouraria» para cima onde o Tejo, já em correria para o mar, é fronteira, excetuando algumas urbes industriais cujo trabalho escravo fez história de revolta, predominam almas conservadoras até ao tutano. Apegadas à fé. Às tradições. Ao bem ser e melhor parecer. À vigilância social.

 

Dados os pressupostos, configurar franchising do “Bairro Vermelho” de Amsterdão localizado em ruela de Viseu é anacronismo que jamais os habitantes configurariam em pesadelos do piorio. Mas a necessidade é muita, o negócio do sexo deve estar em baixa como todos devido à penúria que por aqui vai e surge espécie menor de Red Light District. Diferenças substantivas neste comércio viseense se comparado com o original: janelas em vez de montras bordejando a rua, vendedoras limitadas, por isto, a exibir seios desnudos ou emoldurados em lingerie chamativa. Salvo arriscarem escadote, da cintura para baixo, nada é vislumbrado pelos passantes e pelos candidatos à subida das escadas. Adivinhação pura do encoberto, o que tanto faz aos precisados ou viciados ou curiosos. Para todos estes é bênção substituir revistas e canais óticos atrevidos por espetáculo privado com cheiro, cores e palpações e o mais que aqui não cabe mencionar.

 

Indignam-se mulheres - «esposas» ou não – pela concorrência desleal e pela insegurança de circular na rua dos mil olhos e ilusões. Com os maridos, igual, porque atentados ao pudor na forma de convites a esmo às respetivas é ofensa e perigo. Será que a edilidade avança com proibição ou ativa o fisco para do pseudo franchising retirar valias?

 

É sensato aceitar não ser Portugal um país, mas, pelos poderes instituídos, sítio mal frequentado.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

Shirley Bassey e David Bowie comemoram hoje aniversários.

 

publicado por Maria Brojo às 11:02
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Sexta-feira, 3 de Fevereiro de 2012

MUROS E MUSGOS

Magritte reinventado, Richard Franklyn

 

-9ºC em Carrazeda de Anciães, -6ºC na Guarda, - 4ºC em Viseu. Na Europa, a vaga de frio vinda do Norte já matou para cima de duzentas pessoas. Só na Ucrânia, mais de 110, maioritariamente sem-abrigo encontrados sob a neve. E lembro, com gosto, os «pingentes» que na Beira Alta, tempo de férias no Inverno, enfeitavam muros e musgos. Os caminhos, feitos escorregas, para a miudagem fruir. E a garota deslizava; com luvas partia o rendilhado do gelo que debruava fronteiras. Ignorava o perigo nas estradas porque dela o gozo era a região fria, o divertimento, amigos outros que os interregnos entre períodos escolares permitiam rever. Era feliz. Corria o contentamento encapuçada pelas ordens matriarcas, gargalhava ao cair, mergulhava as botas na neve que lhe fazia a graça de cair. Quando o sol arribava, luziam montes, encostas, vales e o chão próximo. O azul despontava lá em cima muito antes da neve enegrecer pelos fumos do corrupio automóvel. E quando luto entristecia a alvura, avançava serra acima à cata da impoluta. Enterrava as pernas até delas mear a altura. Subvertia o desafio das recomendações. E ria e era menina/adolescente/jovem rica do que mais importa: liberdade.  

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

«Pra» aquecer: Fernando Botero. Nasceu em Medellín / Colômbia, no ano de 1932. Pintor, desenhista e escultor de grande originalidade. Conhecido pelas figuras obesas (a sua marca) onde retrata a família, o quotidiano, a vida burguesa, a cultura popular colombiana, animais, flores e personagens históricos. Estilo inconfundível, único, conquanto em Portugal um pintor o imite com enorme distância na qualidade.

 

publicado por Maria Brojo às 11:27
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