Sexta-feira, 18 de Julho de 2014

O JOGO DO CAOS

 

 

Vladimir Kush - Chaos Butterfly, Arrow of Time

 

Se à "Teoria do Caos", década e pouco atrás, coube o Nobel da Economia, foi a "Teoria do Jogo" depois premiada. Jogo. Caos. Sistemas aleatórios isentos de previsibilidade. Flutuações erráticas do universo ou consequência de um caldo inicial de condições?

 

Caricatura da "Teoria do Caos" defendia que o bater de asas de uma borboleta em Pequim originava furacão em Nova Iorque. Modelo elementar que ilustra o importante: a evolução de um sistema dinâmico depende das condições iniciais. Fosse possível regredir no tempo - o almejado “ó tempo volta para trás!” –, mudando as circunstâncias que ditaram um acontecimento, os caminhos assumidos seriam diferentes. Nas coisas e na vida. Como mão-cheia de berlindes caídos no chão. Por cada lançamento, diferentes as posições determinadas pelo cozinhado das infinitas variáveis.

A "Teoria do Jogo" envereda pelo princípio ação/consequência. Atitude gera atitude, comportamento, comportamento, ação, reação. Boa esta, sendo meritória a causa que a determinou. Simples e curto: do bonito nasce bonito, do mau vem crueldade. Da gestão sensata das boas ou más atitudes poderá surgir o equilíbrio. Verdade abrangente do trânsito à guerra, da economia à ética. Consequência: admitida a bondade desta teoria, querendo solidariedade teremos, primeiro, de fazer uso dela. Não é para me gabar, não senhora, que eu nem sou dada a essas coisas como a «peneirosa» ali do 11º B, mas tenham a fineza de acreditar que ainda garota, caracóis presos num laço, joelhos esfolados, já sabia bem demais que ou andava «direitinha», ou às bonecas dizia adeus. Ora bem! E, que saiba, de precoce não tinha pitada.

Não seja levada a ironia à conta de desdém. Da complexidade dos sistemas que a natureza engendra sei um pouco para dela abusar com galhofa. Todavia, o gosto de tornar acessível o tido por complexo tem destas coisas: pisar o ténue risco entre verdade e falsidade. 

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 14:46
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Sábado, 22 de Março de 2014

PELA MACIEIRA, TRESMALHADA

      

Vladimir Kush – Heavenly Fruits                      Vladimir Kush – Clockwork Apple   

 

Acordei tresmalhada – mulher que sonha com Newton mais a macieira da lenda gravítica a poucos minutos de abrir para o dia as pestanas não pode estar sã. Algum bicho incubou larva em ninho cerebral identificado, conquanto ignoto o lugar da procriação. A macieira, juro porque ‘vi’, era árvore pequena num bosque de outras centenárias. Encontrá-la foi demanda longa, maior que a do Santo Graal.

 

Carvalhos de seiscentos anos, faias de trezentos, teixo de mil, castanheiro que dum milénio passou. Senhor ilustre que de lado nenhum conheço, Brian Muelaner, disse: _ “Ficar perto de uma árvore antiga, que viveu séculos de história, pode ser uma experiência de humildade.” É verdade – sem dispensa da ordem precária, passam no largo incomparavelmente mais avantajado que o meu. Idear a morte não me aflige, mas testemunhar vidas milenares deixa-me mais pequena que no momento do arribar da consciência lógica. Se árvores velhas morrem majestosas, hirtas e enramadas nas copas cheias, o ser humano minga com o deslizar do tempo enguia, fugidio como ela ou peixe.

 

Newton, o génio que no campo buscou refúgio da cidade malsã, surge como símbolo de quem esbraceja contra a penúria vivida e a pior anunciada. Outra interpretação do sonho espreita: vontade de encontrar a raiz do talento que de poucos faz maiores no caldo anónimo. Não é delírio este sinal de utopia falhada? Mal digerida? Ou ambição de resistência à dúvida de chegar a horizontes longe? Nem com par de doses de cafeína curta encontrei resposta. Nem esperava. O mistério dos sonhos é substrato para interrogações e procuras e crescer.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:31
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Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2014

DONA ROSA

 

 

Vladimir Kush – Forgotten Sunglasses

 
Já não há porteiras. De mansinho, uma aqui, outra ali, mais uma «acoli», foram desaparecendo. Arrumaram os «tarecos» para gozo da reforma _ “perto da minha Arminda, que, não desfazendo, também é muito boa filha, assim como a menina, benza-a Deus!” _ ou convidadas pelo chefe anual dos condóminos a largar o ofício a troco da permanência na casa por uns anos mais. Delas ficou o vazio do “bom dia! Está atrasada... Eu chamo o elevador enquanto aperta o casaco. Dê cá a pasta, «menina»”, sem arredar a mão da esfregona ao suster  a porta do elevador.

As porteiras de bairro, quais babushkas de São Petersburgo ou Vladivostok, eram guardiãs dos costumes encavalitados nos conformes sociais, informadoras, conhecedoras de todos os truques da sobrevivência humana, especialistas em fintarem quem julgava ludibriá-las. A menina Ivone do 4º esquerdo que, havia anos, deixara os quarenta para trás e nunca casou, bem podia, noite alta, manter as luzes apagadas ao sair o colega do escritório, e sussurrar-lhe: _ “Vai pelas escadas e não batas a porta de baixo.”” Ou a pequena do terceiro aveludando as botas ao dispensar o elevador se era alta a madrugada no entra em casa. A todos a Dona Rosa topava as cautelas das quais lhes prestava conta por via de indirectas certeiras _ “A menina veja lá, suba como deve ser, não seja preciso uma noite destas chamar o 112 por mor de alguma queda...” Ou o Doutor Figueira, despachado pela meia-noite da última «doente» no consultório, ainda transpirando vitalidade por todos os poros ao regressar noite adiante ao «lar» _ “Quando o doutor chega assim tarde, nada como um duche para limpar o perfume, ai o meu disparate!, as ideias.””

Não há segurança encorpado, a farda como envelope/endereço de condomínio fechado, prestimoso ao arranjar a porta-janela da cozinha que não fecha, o estendal no recanto do «combinado», o silicone pasmado dos cabos serpenteando no chão que me faça esquecer a D. Rosa, barriga à solta empinada sob a bata de quadrados. Ou os seus olhos piscos de ironia ao comentar: _ “Pérolas, saia e casaco?! Hoje, chegam os paizinhos, não é?”

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 08:00
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Quarta-feira, 8 de Janeiro de 2014

DE CÁ E DO IOWA COM FRIO E AMOR

 

 

  

JMW Williams - Snow Landscape Window                                                            Vladimir Kush – Atlas of Wander           

 

Repito: gosto do cinza translúcido, quase a raiar o branco, que prenuncia nevão. Gosto dos cristais de gelo ao caírem, de encostar o nariz às vidraças e deles ver a dança, gosto do manto cristal a cristal constituído quando cobre o solo e o erguido acima dele, gosto de o desvirginar com pegadas.

 

Por hora e por cá, é restrito o lençol branco às alturas geográficas do país. Temporais arruínam vidas sem que as ceifem. Por isto, justos louvores dirigidos ao alto – ao ‘Altíssimo’ é decisão individual. Na América Norte, a temperatura desliza para graus negativos que desde há um século não eram medidos pelos termómetros. De novo, extremado o clima pelas doudices irresponsáveis dos humanos. Mais e pior os espera – o tempo dos remédios foi levianamente ultrapassado.

 

Mas também chegam boas notícias do Norte duma América enregelada. Há alguns dias, uma pesquisadora dos arquivos da Universidade de Iowa descobriu algo incrível escondido numa série de livros do século dezanove: pinturas no corte dos livros que somente podem ser vistas quando as páginas são distorcidas num certo ângulo. O Café da Manhã dá conta do ocorrido.

 

Nota - para mais saber, esta é  ligação (http://www.thisiscolossal.com/2013/09/fore-edge-book-paintings/)

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:23
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Sexta-feira, 4 de Outubro de 2013

PORQUE O DESESPERO VITIMA

Vladimir Kush – “Arrival of the Flower Ship” e “Privedentsev Gennady”

 

O mundo, a Itália, a Eritreia estão em luto. O desespero pela miséria vivida continua a matar. Os emigrantes partiram com pensar florido de ilusão. O fogo e o naufrágio à beira do paraíso foram derrota imerecida. Será verdade que Deus leva os que mais ama?

 

Como homenagem às vitimas, dos Pink Floyd, High Hopes - The division Bell.

 

Além do horizonte do lugar em que vivíamos quando jovens

Em um mundo de imãs e milagres

Nossos pensamentos vagavam constantemente sem limites

O soar do sino da divisão começou

 

Ao longo da Grande Estrada e de sua calçada

Será que ainda elas se encontram na encruzilhada?

 

Havia uma banda que tocava fora do tempo seguindo nossos passos

Correndo antes dos tempos, levaram embora nossos sonos

Deixando incontáveis pequenas criaturas tentando nos prender ao chão

De uma vida consumida por uma lenta decadência

 

A relva era mais verde

As luzes eram mais brilhantes

Com amigos por perto

As noites de surpresas

 

Olhando além das brasas de pontes resplandecendo atrás de nós

Um relance do quão verde era do outro lado

Passos rumo ao progresso são tomados, mas em seguida regredimos de novo

Puxados por uma força interior

Às alturas, com a bandeira desfraldada

Alcançamos as rarefeitas alturas daquele mundo tão sonhado

 

Sobrecarregados para sempre por desejo e ambição

Ainda há um desejo insaciado

Nossos olhos cansados ainda se perdem pelo horizonte

Apesar de que, por esta estrada, termos por várias vezes passado

 

A relva era mais verde

As luzes eram mais brilhantes

O sabor era mais doce

As noites eram maravilhosas

Com amigos por perto

A brilhante névoa do amanhecer

A água correndo

O rio sem fim

 

Para sempre e sempre.”

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 09:41
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Quarta-feira, 27 de Fevereiro de 2013

VIAGRAS PARA QUÊ?

 

Vladimir Kush

 

Recolhidos da natureza, alguns estimulantes sexuais comportam benefícios comportam benefícios sem agredir o meio ambiente. Afrodisíacos, chamam-lhes. Mas o que são? _ Substâncias que estimulam o desejo sexual e causam alterações no corpo, no psiquismo e na produção de hormonas. Cultuados por diversas sociedades há mais de cinco mil anos, os afrodisíacos já eram conhecidos pelos egípcios, gregos e romanos como substâncias capazes de provocar desejos.

 

Nunca é demais frisar não existirem pesquisas que comprovem certos alimentos, ervas, bebidas e outros suplementos como estimulantes na produção de hormonas ou doutras substâncias químicas que influenciam a líbido. Não falta quem defenda o poder desses estimulantes. Além dos naturais, existem afrodisíacos fabricados em laboratórios e que utilizam produtos químicos, consomem matéria-prima, energia para o respetivo fabrico e contribuem com desperdícios para aflição do planeta.

 

É possível evitar esses produtos com opções 100% naturais:

- ingestão de pimenta gera reações fisiológicas no corpo semelhantes àquelas vivenciadas durante o sexo (transpiração, aumento da frequência cardíaca e da circulação sanguínea). Abusos são inconvenientes: irritação dos órgãos genitais e da região urinária que causa sentir próximo da excitação sexual;

- desde há séculos, a raiz do gengibre é considerada afrodisíaca pelo aroma e por estimular o sistema circulatório;

- a produção de hormonas sexuais é também fomentada pelas vitaminas do complexo B da banana e sua riqueza em potássio. Além do mais, o simbólico fálico é poderoso.

 

Para «chocólatras»

 

Pesquisadores estudaram o chocolate e constataram que ele contém feniletilamina e serotonina, duas substâncias que causam "bem-estar". Ocorrem naturalmente e são libertadas pelo cérebro se o ser é feliz ou apaixonado.

 

Na época medieval, era tomado hidromel - bebida fermentada feita com mel para aumentar o desejo sexual. O mel é rico em vitaminas do complexo B (necessárias para a produção de testosterona) e em boro (que ajuda o corpo a metabolizar e usar o estrogénio). Alguns estudos sugerem que o mel pode elevar os níveis de testosterona no sangue.

 

O aipo contém as vitaminas A, B, C, P e minerais. Excelente para os músculos, ajuda à liquefação do sangue. Afirmam-no redutor do colesterol e vassoura das artérias. Os antigos Romanos dedicavam o aipo ao deus Plutão, deus do sexo e do Inferno.

 

O cardamomo é erva aromática. Certas culturas consideram-no afrodisíaco de elevados poderes e benéfico no tratamento da impotência. Rico em «eucaliptol», pode aumentar o fluxo sanguíneo nas áreas em que for aplicado. A flor é cultivada no mundo inteiro, mas é principalmente o jasmim espanhol o utilizado para aromatizar licores. Atenção: as sementes de jasmim são venenosas. Nada de as engolir para efeitos imediatos - a paciência é virtude.

 

Uma fruta especialmente feminina

 

O mamão (como a semente de anis) é estrogénico - possui compostos que agem como o estrogénio, a hormona feminina. Usado como mezinha, facilita a menstruação, aumenta a líbido da mulher, facilita o parto e o «subir do leite». Durante séculos, foi repetido que o manjericão estimula o impulso sexual e a fertilidade, gera bem-estar e melhora a circulação sanguínea. Errado utilizá-lo apenas para condimentar saladas e «pastas».

 

Nota: adaptação livre de um texto cuja fonte foi perdida.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 03:35
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Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2012

METAFÍSICAS MENORES

Vladimir Kush, Norman Rockwell

 

Gostava de desafios. Desde pequena, ainda jogava às cartas, ao xadrez, às damas ensinada pelo pai e pelo avô, odiava perder mesmo se feijões eram prémio. Ensaiara batota, mas depressa entendeu a falta de mérito por manobras assim. Hoje, continua sem perceber a vantagem do falso quando a verdade questiona e dá que fazer ao espírito. Ora, embaraçar pensamentos e deles saber qual a ponta do fio da meada obscura é gosto. Quanto mais baralhada melhor - o trabalho subsequente é estímulo que não desperdiça. E pelos dias vai encontrando motivos para agir. É tão penosa a linearidade se mais e melhor é necessário!

 

Linhas rectas, delas os segmentos, têm vantagens nas alturas certas das vidas. Como norma reactiva são tédio. Curvar o entendimento ajuda à tolerância sem ser beliscada a coerência. Alarga horizontes. Potencia solidariedades. Rejeita cristalizações da matriz desenhada no nascer e crescer. A dificuldade reside no exercício diário que as confrontações com a linha avançada dos «pré-conceitos» individuais afligem. Guerreá-la a cada momento beneficia o indivíduo e a cidadania.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 13:07
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Sábado, 4 de Fevereiro de 2012

DE BÚZIO, OS SUSSURROS

 

Liza Hirst, Vladimir Kush

 

Entreabertos os olhos, espreitadela ao relógio. O calor da pele que a noite fez crescer diz não ao acordar. Vira-se para o outro lado, tacteia o corpo da partilha, afaga-lhe ao de leve o rosto, enrosca-se mais. Que os ponteiros andem ou desandem tanto faz. O dormido ainda, como se fora complemento do sono/sonho, abraça-a, ajeita-a para a colar a ele. E ela acorda para a manhã, sem atrever movimento que o desperte de vez. O escuro cúmplice, por artes de contra-luz que pouca há, destaca o perfil de abandono no abraço.

 

Fosse outro tempo, ter-se-ia levantado com mansidão, deixaria que gestos leves a transportassem à cozinha. Rechearia os tabuleiros do pequeno-almoço, forraria com música dolente e em tom de murmúrio as paredes fechando portas de comunicação. No agora, o estar mudara: fruía do quente mútuo, voltava a dormitar. Que arribasse em simultâneo a consciência, que os corpos se entendessem de novo, que nada fosse perdido das ondas na praia-mar. Com sussurros de búzio na ilha onde eram, (re)começou a valsa lenta que fora adormecer.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 10:39
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Segunda-feira, 16 de Janeiro de 2012

O DIABO VERMELHO

Vladimir Kush, David Ligare

 

A literatura, quando de qualidade, é fonte de ensinamentos que duram para lá do tempo em que foram. Prova-o este “Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV, extraído da peça de teatro Le Diable Rouge, de Antoine Rault” que adaptei aqui e ali:

 

"Colbert: _ Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...
Mazarino: _ Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!
Colbert: _ Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarino: _ Criam-se outros.
Colbert: _ Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarino: _ Sim, é impossível.
Colbert: _ E então os ricos?
Mazarino: _ Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: _ Então como havemos de fazer?
Mazarino: _ Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais!Esses, quanto mais tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório
inesgotável."

 

Numa dezena de «tiradas», os princípios básicos da exploração que nos sujeita e traz acabrunhados. Assim era. Assim será? _ Não creio. Em
2010, 25% das transacções escaparam ao fisco. A percentagem subiu devido ao aumento do IVA. Cerca de quarenta mil milhões de euros são o valor da actual economia paralela. Com isto e mais se desmente parte da argumentação de Mazarino. Nova ordem social terá de ressuscitar parte substantiva deste mundo agonizante.

 

Nota: origem do excerto aqui.

 

CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 07:32
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Quinta-feira, 28 de Janeiro de 2010

O SOL NÃO MARCA A ESPERA

Vladimir Kush


A entrada é manhosa. Brilha a calçada em ângulo obtuso. Polida. Gasta por passos perdidos na dor, na ansiedade, no medo, na alegria ou no alívio. A passada fica espontaneamente miúda – adivinha possibilidade do corpo resvalar e obedecer à gravidade lei.


Dentro dos muros, tudo é exíguo. No filtrado estacionamento, as ambulâncias entopem-se mutuamente. Impaciência no rosto de quem as conduz. Maqueiros correm nas vielas esconsas. Empurram macas. Numa, paciente idosa, entubada, desnuda nos ombros pela coberta escorregadia. Distância excessiva (per)corrida num final de manhã de gelo. Soalheira. Pingasse o céu, e, além do frio, a doente chegaria ao destino pior do que saíra.
 

Edifícios avulsos. Setas apontam «gias»: cirurgia, gastroenterologia, oftalmologia e mais do que outras tantas. Os necessitados de cuidados, idosos na maioria, arrastam-se nos becos com o desalento expresso no andar e no rosto. Aguardam em corredores apertados como se foram salas de espera. Circulam os ponteiros e nada muda – a espera continua.
 

O antigo convento dos Capuchos abriga hospital. Talvez não dure muito por ali. Ou não, que nem sempre é orientada pelas prioridades a gestão dos dinheiros públicos. Na degradação geral, coabitam administrativos, médicos, enfermeiros e auxiliares bons, maus ou rudes como noutro qualquer sítio. Madraços e dinâmicos misturados na salada dos funcionários públicos. Salários e progressões na carreira sem discriminarem a eficácia do trabalho cumprido.


Engaiolado entre edifícios, o “Pátio do Relógio”. Nele, a cisterna do antigo convento. Boca octogonal com um metro de altura encimada por relógio de sol em pedra. Gravada a data, 1586, e as iniciais do construtor. O século dezoito provado na riqueza ornamental dos azulejos obedientes à tradição azul e branca: lírios no centro dos medalhões, anjos, concheados e “asas de morcego”. E o relógio, beleza inesperada, marca as horas. Segue a teia solar sem que as esperas e o desespero nele sejam medidas.


CAFÉ DA MANHÃ

 

publicado por Maria Brojo às 13:01
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