Autor que não foi possível identificar
Reconto dum conto meu
«Cowgirl» entre cowboys e damas respeitáveis pelo recato ou estatuto. Setenta anos atrás. Dolentes os dias acalorados na urbe pequena. Local: desertos texanos com esparsos bares, poker nas mesas, homens aventureiros com metralha no cinto; elas, decotadas, esperavam arremate no andar de cima ou no salão. Pedido da clientela a justificar sedução paga. Em madeira tabuada, «semi-porta» de empurro. Dentro a mulher como objeto de desejos precários e consumistas _ hoje, avio esta; na volta, aquela. Talvez ela. Ou não, que o nariz empinado rejeitava ordens e precisões avulsas. Mania. Regra e esquadro pessoal.
O dono/chulo/senhorio do bar vigiava-a de soslaio. Admitiu-a sem a provar pela diferença da candidata ao serviço: prometia na imagem, negava pelo estar. Valia pelo exotismo. Pelo toca-e-foge, vontade e manobra lucrativa. Dela. E safava-se de homens subidos ao quarto esconso. Nele, varandim debruçado sobre rua poeirenta.
Noite após noite, o mesmo. Mas eles bebiam na esperança de a terem nos lençóis finos de que só ela sabia - na admissão, devolvera os grosseiros que lhe afligiam a finura da pele. Para o "consome mais!" bastava o perfume, o olhar negro, o brilho da pele, os ombros desnudos, o roçar do cetim em folhos, a meia de rede preta vislumbrada no sabido sentar. Pé arqueado nos botins com presilhas e salto pequeno. E desconversava. E ria. Muito.
No faz-de-conta, vida. Durando o sol, costurava vestires ousados. Atravessada com pressa a rua fronteira, sombrinha aberta não corrompesse o sol a porcelana do rosto, pagava fitas e tules na retrosaria. Mais tarde, seduzia. Dinheiro entrado na caixa ruidosa sobre o balcão corrido na noite.
Ia ficando. Até um dia. Intocada até querer ou surgir o homem ideado.
Na diferença, banal.
Nota: texto publicado aqui e ali.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros