William Bouguereau– “Invading Cupid’s Realm” “Angel in Denim” – Brincadeira atual baseada na obra anterior William Bouguereau – “Elegy”, c_1899 “Bronze Medal” - Brincadeira atual baseada na obra anterior
Renoir – “On that balmy afternoon”, “Shaving Before the Bath” – Brincadeira atual baseada na obra anterior, Renoir – “On that balmy afternoon” (Detail)
Texto que me foi enviado por caro amigo. Graça a rodos! Que conste nem eu nem o amigo que fez o favor de me enviar esta anedota – não tenho qualquer jeito para, oralmente, transmitir anedotário – nada termos contra a cultura e/ou o povo alentejano. Curiosamente, vá lá alguém saber o porquê vero!, tornaram-se clássicas piadas sobre alentejanos.
“Um Alentejano foi de visita à China e comprou uns óculos cheios de tecnologia. Permitiam ver todas as pessoas nuas. Manuel coloca os óculos e começa a ver todas as mulheres nuas. Fica encantado com a descoberta chinesa.
_ Ponho os óculos, só vejo mulheres nuas! Tiro os óculos, já as vejo vestidas! Que maravilha! Isto sim é tecnologia!
E assim foi o Manel para o Alentejo, louco para mostrar a novidade à sua Maria. No avião, maravilha-se ao máximo vendo as hospedeiras e as passageiras todas nuas.
Quando chega a casa, entra já com os óculos postos para abraçar a sua Maria toda nua. Abre a porta e vê a sua Maria a conversar com o seu vizinho. Todos nus sentados no sofá.
Tira os óculos, todos nus! Põe os óculos, todos nus! Tira os óculos, todos nus! Põe os óculos, todos nus!
Exclama o Manel:
_ Já avariaram! Estes produtos chineses são uma porcaria!”
CAFÉ DA MANHÃ
William Bouguereau – “Les Jeunes Baigneuses”
Na escola primária de granito com recreio amplo em terra batida, decorriam brincadeiras que ainda hoje as crianças têm. Cansada das comuns, a menina que seria minha tia e freira resolveu brincar às missas. Meninas de joelhos, pés tapados com lenços como viam às mulheres que, pela ajuda das saias compridas, na igreja faziam o mesmo. A tia atamancou um dos sermões do tio padre António da Ordem do Espírito Santo que fez de África o seu amor. Levantados os braços, disse com pompa na voz e na postura:
_ “Escavai bem escavadinho e encontrareis gotinhas de água.”
Reclamando os ouvintes por ali dela não haver vestígio, foi transferido o sermão para a ribeira da Ponte onde água não faltava. Consta terem chegado a casa encharcados os petizes.
No outro lado da aldeia, a ribeira do Muchata era tentadora: margens livres e planas, ervadas, algumas rochas pelo meio da correnteza mansa a pedirem saltos para a água. As mulheres do lugar lavavam roupa, estendiam-na e deitavam olho à pequenada que por ali cabriolava. A futura senhora minha mãe era terrível pela ousadia nas brincadeiras. Provas bastantes deu para inquietação dos pais e de quem dela se encarregava; amainaria na adolescência ao ter-se por menina/senhora. Entre as traquinices é contada a de fazer escorrega dum penedo alisado pela erosão e que à água da ribeira determinava remoinho. Supunha, era o costumado, parar a tempo, repetir subidas e descidas vezes a fio sem molhar as extremidades das sandálias. Num impulso mais arrojado, estatelou-se na água. Quem dela tomava conta, numa corrida, foi a casa avisar a mãe, a minha doce avó ‘Mamia’. Não só proibiu muda de roupa que à filha cobrisse, como, sem delegar em ninguém a tarefa, foi buscar a infratora. Num canto, amarfanhada pelo medo e frio, a garota esperava. Firme, a mãe fê-la atravessar o povoado humilhantemente embrulhada em toalha que nos arbustos secava. Os anais familiares garantem sobre a criança não ter repetido a graça.
O sol e o degelo e o despontar dos verdes anunciavam, breve, a Primavera. Na varanda com sacada de ferro torcido em curvas caprichosas, entretinham-se as duas irmãs. A mais velha, um mês sobrava para dois anos na diferença de idade, cantava na sua pequenez enquanto a irmã fingia tocar:
_ “Toca a «coneta» nossa menina!”
A ‘tia Amélia’ à janela, habitual posto de vigia, conquanto se afirmasse eternamente amiga da família, não reprimiu veneno:
_ “Olha o padre-nosso e a avé-maria que a mãe lhes «enxina» de «noute»!
Noutras vezes, e porque tinha pouco apetite, a mesma das manas refugiava-se em casa da ‘tia Amélia’ que cozinhava na lareira o pouco de que dispunha; os filhos comiam sentados no chão em paródia desmedida. Ali, a garota não escusava alimento fosse ele qual fosse, bastas vezes enviado pela mãe para matar a fome da filharada em frente. Feliz por ver a petiza alimentar-se com gosto, assomou ao balcão: (…)
CAFÉ DA MANHÃ
Malin Grön Autor que não foi possível identificar
Patty Kaliher William Bouguereau Carl Larsson
Deu-me para acrescentar texto após a publicação do post.
"Nada de original. O dia 26 de Dezembro é propício a subir ao sótão, sacudir o pó e abrir o baú das memórias. Dar conta que faltaram pingentes de gelo sobrando dos granitos feitos muros, frialdades de estalar ossos, que o hoje é feito dos muitos que partiram, das irmãs matriarcas cuja idade fragilizou. Ressaca de tanto amor ido deixando cadeiras vagas frente à mesa?
_ Sim.
_ Não.
As novas gerações encarregam-se de as ocupar e serem precisas mais."
CAFÉ DA MANHÃ
William Bouguereau
Às mães que os acasos deixam sem companheiros e pais dos filhos que engendraram em ventre fértil, é comum conselho não denigrirem imagens paternas que mais do que tarde recaem sobre elas na disfunção das personalidades infantes ou juvenis. Mãe seguiu o conselho. Estabeleceu relações harmoniosas entre pai e filhos no pós-divórcio, sonegando violências físicas e psicológicas que a humilharam na vida conjugal. Há vinte e muitos anos, quase trinta, a agressão doméstica perante a lei tinha contornos jurídicos afastados por milhas dos de hoje. A mulher agredida era temerosa das consequências privadas se denunciasse os crimes perpetrados. Como hoje. Como ontem.
A inexistência de instituições de apoio às vítimas, o pensar comum e socialmente aceite sobre o domínio masculino perante a mulher, congelavam crimes. Filhos adultos, crescença pacífica, bem-sucedidos na vida, foi chegado o momento de pai vigarista gerar conflito e, por lentilhas, opô-los à mãe.
Paternidade angelical, maternidade tonta foi o pensar das crias - pela característica generosa, assinaria cegamente papéis mentirosos. Mas não: a mulher abriu a ‘caixa de Pandora’ que julgava enterrada após anos de psicoterapia e cuja chave deitara fora. O pesadelo voltou. Imagens/memórias mais vívidas do que nunca. E culpou-se pelo silêncio que os valores lhe impuseram e aos quais obedeceu como ovelha balindo atrás do pastor. E assumiu o feito e por fazer. Hoje, tem como fito ser mulher e mãe verdadeira doa a quem doer.
CAFÉ DA TARDE
Baseado numa obra de William Bouguereau
Falseia a meteorologia, destrói expectativas de sol e mar. Também a vida se encarrega de desmoronar projetos quotidianos que nos do amanhã apenas é certo continuar a degradação social do povo onde somos, esteja cada indivíduo ainda presente ao cimo da Terra ou não.
Chegando a degradação pessoal devido a doença insidiosa que o ser transforma, Alzheimer é o caso, engasta na alma dos familiares dor constante. Assistir às mudanças de atitude, às capacidades decrescentes, ao pensamento tornado errático, ao sofrimento do próprio nos parcos momentos de lucidez onde consciencializa o vestígio do passado em que se transformou, é mágoa para os cuidadores.
Pela certeza de ausência de melhoria no estado do paciente, os afetos com memórias do ontem e coração repleto de amor pelo doente, correm perigos: resvalar para uma tristeza sem fim, para incapacidade de levar em frente o quotidiano com aparente normalidade. Esvai-se a alegria. Diminuem os momentos felizes. Omissa a vontade de fruir de tempo a só não se interponha crise no entretanto. Lutar contra tudo isto é também obrigação do cuidador familiar.
E o nosso amor presente/ausente torna-se num anjo urbano planando acima de nós.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros