Autores que não foi possível identificar
Sam Sheppard. Wim Wenders. Os dois, combinados, ideiam filmes dolentes, planos demorados, sentimentos contidos, sensualidade no falar silencioso do Sam Shepard habituado à escrita boa ou não fosse Prémio Pulitzer. Conheci-o, vergonha minha, apenas no “Paris, Texas”, road movie incomum, também realizado por Wim Wenders e estrelado pela fabulosa Natassja Kinski. Mais tarde, dele leria o editado por cá. Simbiose harmónica entre o escritor, actor, guionista.
Vieram à lembrança as referências pela sensualidade na escrita, no celulóide, na voz, nas gentes. Qualidade abrangida por alguns. Se trabalhada soa a fingimento. Se inata é o que deve ser – explosão dos sentidos todos num olhar, num gesto ou trejeito, num morder de lábios ou num jeito sem jeito. Impressão digital que nenhum burocrata legitima, mas fica gravada na sensibilidade de quem vê e reconhece pelo diálogo com profundezas das quais cada um sabe em si.
A voz que canta o Café da Manhã, apela à transgressão, clama pele, chão ou cama. Talvez solo pisado dum jardim ou dele banco de madeira onde dois se confundam num.
CAFÉ DA MANHÃ
Alentejana como não bastasse o bastante.
Autor que não foi possível identificar e Tristan Henry Wilson
Foi há vinte anos. Wim Wenders realizava a ficção científica “Until the End of the World”. Filme datado ao prever o futuro dos humanos que recheiam este planeta no último ano do milénio cumprido. A realidade na baliza temporal do argumento negou-o. Duas décadas depois, apartando peripécias como a caça da CIA, a perseguição larápia que obriga Sam (William Hurt) à condição de fugitivo para salvaguardar a máquina inventada pelo pai, a categoria de ficção datada perde algum fundamento. A máquina que transformava sonhos em imagens é, agora, retomada por Moran Cerf. E se parece frívolo o objectivo de construir filme com os filmes vividos enquanto dormimos, as aplicações são ambiciosas – pela leitura dos neurónios, comunicar com doentes comatosos, criar aparelhos comandados pelo cérebro.
Neste dia outonal, chuva e vento e folhas bailarinas até fatalidade na água que lhes apodrecerá os tecidos, é apetite esticar o sono. Demorar estado de semi-vigília, adormecer de novo. De fantasias ou sobressaltos construir sonho. Dormir num mar de tranquilidade que dispensa eléctrodos plantados na cabeça. Indesejada a máquina de Wenders e Sam e Cerf que desaferrolhe aldrabas protectoras - existem névoas pessoais cujo encanto não resistira se deslindadas em imagens continuadamente desfilando até ao fim da passagem de cada um pelo mundo.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros