Autor que não foi possível identificar Antonio Bartolo - A Brasileira
Garantia do poder entronado na governação. E uma mulher sai de casa para abastecer o despenseiro e, por três sacos com básico carrego, sofre um baque ao pagar. Se estava acostumada à Zara, muda para o chinês do bairro. Tendo cabelo rebelde, lava-o em casa e chega, pingona, ao cabeleireiro para um ‘brushing simplex’. Com a magra poupança, arrisca a manicura. À borla, lê as últimas leviandades dos famosos, o horóscopo semanal, receitas de culinária que enganem, a baixo custo, dente e olho, dicas para caçar um homem ou conservar o que tem. Anima-a ser tratada por menina, não esticar os braços durante meia hora para fatiar o cabelo que o secador esturrica, sair com as unhas coruscantes. Sabe como sol de pouca dura os luziratos coloridos – porque abdicou de empregada e pela falta de hábito, esquece o uso de luvas que protejam as mãos dos detergentes e esfregões. Talvez, pela noitinha, as besunte com um creme barato, se o cansaço não a levar para a cama sem mais lhe ocorrer que lavar rosto e dentes. Nem olha para a pele do corpo, outrora macia, hoje escamada pela secura. Ainda assim, louva a bem-aventurança da família, o trabalho que a sustenta e também preenche. Arregaça mangas e vontade em cada amanhecer.
A casa não está em ordem, nem, um dia, ficará. São parcos os haveres que o país não quer ou sabe adubar para depois, e por todos, distribuir. De outros «teres» possuímos fartura, alguns herdados, outros a cada dia adquiridos: o soalheiro e marítimo solo, outrora dito pátrio, na literatura, páginas de ouro que uma vida não chega para saborear, epopeias que extremos da Terra lembram, tradições e beleza que, independentes do suporte artístico, iluminam o olhar. E é gratuita a caminhada na areia que o vaguear do oceano molhou; gozar frescura e excelência na penumbra de uma igreja ou de um museu; acantonar o corpo nas sombras desdobradas pelo casario; navegar numa tela; «lamber» as formas que o cinzel esculpiu; descobrir que poucas são as vielas e os becos sem saída.
CAFÉ DA MANHÃ
Marteen Koopman
O ceticismo convicto é uma maçada. Como pode alguém conhecer o quer que seja se não acredita em nada? O cético descrê das religiões, da filosofia ou da ciência. Duvida até do próprio ceticismo. Perde a magia que o pensamento científico tenta desvendar – no mistério à espera de entendimento, reside o fascínio da Ciência. Quando erra, evolui.
As religiões tradicionais permanecem estáticas por se afirmarem infalíveis, assim aumentando a distância dos homens. Ilustração: arredar um divorciado dos sacramentos - da comunhão, da possibilidade de apadrinhar casamentos ou batismos – desmente o preceito católico da infinita tolerância para com o próximo.
Li, não lembro onde, dispensarem os cientistas do MIT construir catedrais e reuniões ao domingo para louvarem a teoria da relatividade ou o Big Bang. Simplesmente discutem teses e a respetiva validade. Para um cético, alguns dos rituais religiosos são mecanismos de auto motivação para preservar a fé. Semelhante à dos jogadores de futebol que proclamam antes de entrar em campo: "Vamos a eles! Deus existe, hã! A vitória é nossa! Deus existe!". Tivessem certeza e não gritariam tanto.
Um cínico, em muito semelhante ao cético, vai mais longe: “o misticismo dos menos abastados e dos idosos existe pela falta de recursos ou de esperança em vida útil para curarem frieiras e artroses. Do mesmo modo, um rico na Igreja é aberração por violar em simultâneo princípios católicos e materialistas – os escandalosamente abastados só requerem salvação das ex-mulheres e dos advogados.”
Relevai-lhes, Senhor, a condição de ateus. No mínimo, são genuínos e têm piada.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros