Painted Hands in Advertising by Italian Artist Guido Daniele Kimberley
Houve tempo em que telefonema longo pedia honrado e forte cadeirão, cujo couro sentira o peso de ilustres nádegas de que as nossas não poderiam envergonhar-se. Dos fios que nos atam a comunicações por voz e à distância restam vestígios. Os telemóveis estão para os nossos dias, como a pílula para os anos sessenta. Se «donjuanear» pela vida for objetivo, aceito a comparação. Porém, ao contrário da pílula, a comunicação de bolso pode viciar, impedir que o sujeito fale consigo antes de o fazer com outrem. E não se enxergar por dentro é danoso.
Telemóveis versus pílula anticoncecional. Ambos libertam, podem causar dores de cabeça e insónias, requerem bateria, saldo e cuidado na utilização – um esquecimento pode merecer severa penitência. Explico: para muitos, não eliminar SMS ou registos de chamadas antes de esfregar as solas no capacho na entrada da casa é desporto mais radical que rafting no rio Paiva. Do compromisso faltoso com o comprimido, pode advir despesa, ansiedade, confirmadas ou não por chichi matinal e teste farmacêutico.
As diferenças fazem bailar o fiel da comparação. O telemóvel não causa celulite, permite socorro em caso de avaria ou furo, é generoso em imediatos deleites e notícias; a pílula funciona em silêncio, não pesa na mala, favorece êxtases que o «telelé» copia mal. Aparte o ridículo da voz melosa, «patatis» e «patatás» ao ouvido de plateias garantidas, declararia empate.
CAFÉ DA MANHÃ
Adoçantes
Peregrinando
Brasileiros