“Who knew it was so much fun to be a hooker?” é pergunta associada à inesquecível cinderela do século XX, Julia Roberts. Indiscutível o paralelismo entre a versão contada por Charles Perraut no final do século dezassete e o guião escrito por J. F. Lawton aproveitado por Garry Marshall no filme “Pretty Woman”. Neste, homem de sucesso intimida a jovem prostituta Vivian; na história da gata borralheira, existe a omnipresente e cruel madrasta. Ambas, Vivian e a Cinderela, conhecem os respetivos príncipes no baile da vida. Pas de deux na coreografia do tempo o encontro da prostituta com o rico empresário que a contrata como acompanhante. Cinderela e Vivian angulam o percurso ao depararem com mescla de inesperado amor romântico e poder.
Na película, o vestuário da responsabilidade de Marylin Vance-Straker é o aspeto mais visível da progressiva mudança da jovem acompanhante. Como «mulher-da-rua», minissaias, licras, tops acima da cintura, decotes generosos, cabeleiras postiças e botas de ‘vou ali «swingar» e volto já’. Aparência de ostensivo descaro. Aos poucos, adquire postura melhorada a que não são alheios os crescentes afetos por Edward e pelo gerente do hotel. Vivian adquire maneiras, bom gosto no vestir, alivia a maquilhagem e educa, sem perder, a natural espontaneidade. A transformação culmina em Rodeo Drive.
A minha cena favorita é a do Richard Gere (Edward) abrindo uma caixa. Nela, colar destinado a Julia (Vivian) para que aprimore a figura, entre no avião privado e assista ao espetáculo de La Traviata em São Francisco; num repente inventado por Gere, este fecha-a quase entalando os dedos de Vivian. Surpresa, Julia encanta com o riso solto e natural naquele momento como noutros. Não admira que há vinte e cinco anos, tenha sido a girl nest door dos States. Por outro lado, que bem casou o excerto da La Traviata com o enredo! Nada de espanto, poderá argumentar-se, ao ser dito, como quem não diz que disse, que o guionista buscou inspiração no libreto desta ópera de Verdi baseada no livro “A Dama das Camélias” de Dumas.
Sem a perfeição corporal exigida – nalgumas cenas teve a body double Shelley Michelle –, Julia Roberts fascinou pela jovialidade e pureza. O já antigo tema musical de Roy Orbison,”Oh, Pretty Woman”, viria a batizar o filme. Garry Marshall não podia ter encontrado melhor padrinho.
CAFÉ DA MANHÃ
A minha cena favorita do "Pretty Woman" O único vídeo de "Oh, Pretty Woman”disponível para blogs
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